O tesouro
«Cuida do tesouro que Deus te enviou. Lentamente ele escorrega entre os dedos, e já não o voltas a ver, até que tenhas de responder como o preservaste.»
Foi definido como «a consciência crítica» da sociedade escandinava: Per Olov Enquist, 84 anos, é o maior escritor sueco vivo. Ao ler o seu romance documental “A viagem de Lewi”, história do fundador do movimento pentecostal sueco, Lewi Pethrus, do seu triunfo e do seu declínio, deparei-me com esta poesia espiritual. Ela, apesar da sua simplicidade, merece atenção.
Todos nós – mesmo quem se sente falhado, incapaz, desafortunado na vida – recebemos um pequeno tesouro. E aqui vem à mente a parábola dos talentos, que é quase a fonte temática deste canto.
Não importa se o tesouro vale muito ou pouco; o importante é não o deixar fugir pelos dedos, dissipando-o, ou escondê-lo debaixo da terra, na ilusão de que é suficiente deixá-lo intacto.
Sim, porque o tesouro que Deus nos confia, na realidade não é uma gélida pedra preciosa, mas uma semente viva destinada a frutificar, é uma energia vital que deve operar, é uma luz pronta a irradiar-se.
A frase final é sombria, como o é a parábola de Jesus: no termo da vida, terás de responder pela tua inércia ou pela tua mesquinhez temerosa.
A humanidade é, assim, como um mosaico: cada tessela – ainda que seja só um pequeno quadrado colorido – é necessária para que a obra não fique esburacada e lacerada, mas um desenho completo e harmonioso.
[P. (Card.) Gianfranco Ravasi | In Avvenire]