O amor dá-te asas
Se alguém me ama, observará a minha palavra (cf. João 14,23-29). «Se alguém me ama»: é a primeira vez no Evangelho que Jesus pede amor por si, que se coloca a si mesmo como objetivo do sentimento humano mais disruptivo e poderoso. Mas fá-lo com o seu estilo: extrema delicadeza, respeito que se apoia sobre um livro «se quiseres», um fundamento tão humilde, tão frágil, tão puro, tão paciente, tão pessoal.
Se alguém me ama, observará… porque se acende nele o misterioso motor que põe a vida a caminho, em que «os justos andam, os sábios correm, mas os namorados voam» (Santa Batista Camila). O amor é uma escola de voo, desencadeia uma energia, uma luz, um calor, uma alegria que põe asas a tudo o que se faz.
«Observará a minha palavra.» Se chegares a amá-lo, será normal tomares como coisa tua, como sal e fermento da tua vida, rocha e ninho, seiva e asa, plenitude e superação dos limites, cada palavra dele que te despertou a vida. A Palavra de Jesus é Jesus que fala, que entra em contacto, chega até mim e comunica-se a Ele próprio.
Como se faz para amá-lo? Trata-se de dar-lhe tempo e coração, de reservar-lhe espaço. Se não pensas nele, se não lhe falas, se não o escutas no segredo, talvez a tua casa interior esteja vazia. Se não há rito no coração, se não há uma liturgia no coração, todas as outras liturgias são máscaras do vazio.
«E nós [o Pai e o Filho] viremos a ele, e faremos nele a nossa casa.» Viremos. O Misericordiosos sem casa procura casa. E procura-a precisamente em mim. Talvez nunca encontre uma verdadeira morada, só um pobre abrigo, um estábulo, uma barraca. Mas Ele pede-me apenas uma coisa, tornar-me fragmento de cosmo hospitaleiro. Casa para as suas duas promessas: o Espírito e a paz.
O Espírito: tesouro inesgotável, fonte que não se cala, vento que não repousa. Que não envolve só os profetas, as hierarquias da Igreja, as grandes personagens, mas nos convoca a todos, buscadores de tesouros, buscadores de pérolas: «O povo de Deus, por constante ação do Espírito, evangeliza-se continuamente» (“A alegria do Evangelho”, 139). Palavras como um vento que abre travessias, transporta pólenes de primavera. Uma visão de poderosa confiança, na qual cada homem, cada mulher têm dignidade de profetas e pastores, cada um evangelista e anunciador: o povo é evangelizado pelo povo.
Deixo-vos a paz, este milagre frágil continuamente em ruínas. Um dom a procurar pacientemente, a construir «artesanalmente» (papa Francisco), cada um com o seu pequeno ramo de paz no deserto da história, cada um com o seu mínimo oásis dentro das relações do dia a dia. O quase nada, na aparência, mas se os oásis forem milhares e milhares, conquistarão e farão florir o deserto.