Deixar cair a caneta
«Quando dás aulas, o máximo é quando os estudantes deixam de parte a caneta e ficam a ouvir-te. Até que continuem a tomar apontamentos sobre o que se diz, quer dizer que não os tocaste. Mas quando deixam cair a caneta e te olham enquanto falas, então quer dizer que talvez tenhas tocado o seu coração. As coisas importantes aprendem-se se escaldam o coração.»
Quem fez esta confissão foi um professor de teologia, Joseph Ratzinger, de acordo com o testemunho de um seu colega, Alfred Läpple. Trata-se de uma observação verdadeiramente iluminadora sobre a arte de ensinar e educar proposta pelo agora papa emérito Bento XVI.
Mesmo quem não pôde seguir as suas lições, descobre esta qualidade em muitos dos seus escritos que recolhem o seu ensinamento. Cito apenas uma que me conquistou quando eu era jovem estudante de teologia, a “Introdução ao cristianismo”, que foi várias vezes editada, inclusive em português.
Mas a observação de Ratzinger não vale só para os professores (entre outras, nas suas palavras tem-se a possibilidade de distinguir precisamente entre “professor” e “mestre”). Todos, com efeito, têm alguma coisa a ensinar, a comunicar, a testemunhar, e muitas vezes fazem-no grosseiramente, superficialmente, cansativamente.
Ao contrário, há coisas que, se ditas com paixão, escaldariam o coração que quem talvez tenha precisamente necessidade daquela palavra, daquele conselho, daquela verdade.
Penso de modo particular nos pais, tantas vezes tão apressados ou presunçosos nos seus diálogos com os filhos. Brutalmente, George Bernard Shaw ironizava: «Se os pais conseguissem ao menos compreender o quanto aborrecem os seus filhos!».
[P. (Card.) Gianfranco Ravasi | In Avvenire]