Rezar por nada
«Quando rezo por alguma coisa, não estou a rezar. Quando rezo por nada, essa é a verdadeira oração.»
É domingo, e, depois da missa que celebrei, permaneço um pouco na igreja que se esvazia. Restam apenas, no fim, duas pessoas: uma mulher idosa que recita o terço, e um senhor que está num banco, a meio da igreja.
O tempo passa, a Liturgia das Horas faz-me esquecer por um pouco a sua presença. Quando volto a erguer os olhos, vejo que ficou só aquele homem, que continua imóvel a fixar a cruz e o altar.
Passa-me pela cabeça uma frase, que acima propus: teoricamente gostaria de a aplicar àquela pessoa, ainda que não saiba o que passa pela sua mente (talvez esteja lá apenas por precisar de quietude, e pensa noutra coisa).
As palavras são de um grande (e algo provocador e árduo) místico medieval, Mestre Eckhart, dominicano alemão. A sua distinção entre os dois géneros de oração é, em todo o caso, importante.
É verdade que talvez seja algo radical e exclusiva: não se deve desprezar a mãe angustiada que reza pela cura de um filho, ou a idosa ou o jovem que acendem uma vela e dizem uma pequena oração, a primeira pela saúde, o segundo por um exame. Deus sabe compreender e julgar melhor do que nós, que acreditamos conhecer a “teologia”, ou seja, o pensamento de Deus.
Contudo, tem razão Eckhart quando nos recorda que a oração perfeita é o louvor puro, o celebrar Deus sem nada pedir, exaltá-lo só porque Ele existe e se revela com a sua palavra e a sua glória.
Talvez aquele homem estivesse lá, diante de Deus, calando e contemplando-o: ele «reza por nada», precisamente como Job, que «acreditava em Deus por nada» (1,9), isto é, sem nada exigir em troca.