Fazer com alegria
«Aquilo que torna alegre a vida não é fazer as coisas que nos agradam, mas encontrar prazer nas coisas que temos de fazer.»
Imaginamo-la, como diz o evangelista Lucas (10, 40), «toda tomada pelos muitos serviços», por causa da presença à mesa de um hóspede tão ilustre. O episódio foi proclamado no Evangelho do último domingo, e na próxima segunda-feira, 29 de julho, a liturgia volta a evocar Santa Marta.
Ao meditar sobre a narração, pensemos num aspeto não explicitado nos Evangelhos: talvez ela estivesse tão envolvida nas tarefas porque seria um trabalho que lhe agradava.
É certo que o texto evangélico tem outra finalidade, que, todavia, não está muito distante da nossa consideração, apoiada pela citação de uma das muitas máximas e reflexões do grande poeta alemão Goethe.
No trabalho, diz Jesus, é preciso não se deixar enredar totalmente pela ação, mas ter sempre um caminho aberto para a escuta da voz divina, como faz Maria.
Marta tinha exagerado, ao estar toda tomada pelo seu trabalho, mas certamente colocava nele um gérmen de paixão e de amor, e esta é uma semente que transfigura o puro e simples fazer.
Felizes aqueles que no seu agir conseguem depor-lhe esta centelha de alegria, de participação, de criatividade, porque é só assim que o fazer se torna humano, e já não é uma mera produção.
Alguns sonham profissões aos seus olhos exaltantes, sem lhes entrever as dificuldades ocultadas pelas aparências, e por isso amaldiçoam o compromisso que têm pela frente, tornando-o dessa forma mais gravoso.
Em vez disso, «gostar do seu trabalho – escrevia Primo Levi no romance “A chave estrela” (1978) – é a melhor aproximação concreta da felicidade sobre a Terra; mas esta é uma verdade que não muitos reconhecem».
[P. (Card.) Gianfranco Ravasi | In Avvenire]