Um diretor espiritual tem de conhecer-se a si próprio

Razões para Acreditar 2 agosto 2019  •  Tempo de Leitura: 5

«Para um diretor espiritual, a prudência é sobretudo saber quando escutar e quando falar, mas ainda mais é conhecimento de si: se não nos conhecemos a nós próprios, e, portanto, não podemos ser honestos connosco, como podemos e orientar alguém?»

 

Para a Ir. Gemma Simmonds, docente de Teologia Dogmática, presidente emérita da Catholic Theological Association de Inglaterra, diretora do Instituto para a Vida Consagrada da Grã-Bretanha, mas sobretudo formadora de futuros diretores espirituais, a pridência é um tema muito pessoal, indispensável na prática do discernimento, elemento central quer do seu ensino, quer do carisma da Sociedade de Jesus, a congregação inaciana de que faz parte.

 

«Um diretor espiritual prudente – reforça a Ir. Gemma – está em contacto com as própria necessidades e as próprias vulnerabilidades, e está atento àquelas primeiro do que estar atento às dos outros. Por isso, aos meus estudantes recomendo que sejam misericordiosos. E de escutar sem cessar o povo de Deus. «Se tiveres dúvidas – recordo-lhes e recordo a mim própria –, reza, e parte desta oração deverá ser perguntares-te como te sentes, de onde vêm os teus pensamentos, e então olha para Jesus e pergunta-te como respondeste em situações semelhantes. Pedir-lhe para ser o nosso guia é indispensável para todo o diretor espiritual prudente.»

 

«Prudente – prossegue – é aquele que vê primeiro, que olha para além das coisas contingentes com esperança e coragem. É aquele para quem a virtude da prudência não é temor, circunspeção ou medo de decidir, mas precisamente o contrário: isto é, leitura atenta do presente, reflexão e discernimento para agir bem. É isto que procuro comunicar aos meus estudantes. Por outro lado, o discernimento não é algo que se possa ensinar como matéria abstrata. Deve estar ligar aos contextos reais. Eu ensino aquilo que o próprio Santo Inácio ensinou e praticou sobre o discernimento, mas depois faço refletir os meus estudantes sobre a sua vida real: como tomaram uma decisão numa dada situação? Que fatores contribuíram para aquela escolha? A prudência, digo-lhes, é sopesar os vários elementos de uma situação, e encontrar um equilíbrio entre a teoria moral e o contexto vivencial.»

 

É uma prática que põe em jogo capacidade crítica e coração. «Sem dúvida que não é fácil ser prudentes. O papa Francisco encoraja sempre a considerar as regras e as orientações no quadro das situações pastorais. Santo Inácio, nas Constituições Jesuítas, dá muitas vezes claras e detalhadas, mas depois acrescenta: “Ou segundo as pessoas e os lugares”. Ele presume que os seus devem encontrar um equilíbrio prudente entre as normas e as exigências das situações reais, que poderá não ser a mesma que tinha previsto quando escrevia as Constituições. E fala também da “lei do amor, escrita no coração”. Isto não significa que a lei da Igreja não tenha importância, mas, como diz o Evangelho, “o sábado foi feito para o homem, não o homem para o sábado!”».

 

«Muitas vezes perguntam-me se há um específico feminino na formação espiritual. E ainda que eu seja sempre desconfiada no afirmar “as mulheres fazem isto”, em geral, descobri que aos homens agrada resolver os problemas, no sentido de que escutam, mas muitas vezes com um só ouvido, porque as suas mentes estão empenhadas em encontrar uma solução. Às mulheres, por seu lado, agrada falar dos problemas, porque consideram que falar deles concede alívio, e deixam que a solução emirja lentamente. Portanto, talvez um dom feminino particular na formação espiritual pode ser o de escutar atentamente sem sentir a necessidade de impor desde logo uma solução a partir do exterior. Uma prudência natural, que é certamente dom do Espírito.»

 

[Elisa Storace | In Donne Chiesa Mondo]

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