Porco e burra
«Uma mulher que sobe à montanha de automóvel, cruza-se com um condutor homem que faz, também de carro, o percurso de descida, e grita-lhe da janela: “Porco!”. Ao que aquele, para não ficar atrás, lhe grita com toda a força: “Burra!”.
Eis que o homem, depois da primeira curva, que aborda com velocidade aumentada pela fúria, se depara com a estrada bloqueada por um enorme porco, que investe contra a viatura com consequências ruinosas.»
Estamos mais uma vez perante os habituais fluxos migratórios dos automóveis dos veraneantes, bem como aos inevitáveis despeitos, insultos, prevaricações, indisciplinas e às violações de todos os códigos (não só o da estrada).
Este apólogo, que extraio do livro “Homo sapiens?”, escrito por um médico e por um padre, supõe um contexto análogo, mas permite-nos uma reflexão de outro género.
O equívoco na comunicação está sempre à espreita: pode-se, com efeito, mal-entender uma palavra e reagir brutalmente, por vezes de modo irreparável.
Todos nós temos de reconhecer que nas nossas relações inserimos de quando em vez uma fenda precisamente por causa de um erro ou de um mal-entendido. E talvez a ferida nunca mais se tenha sanado, também porque talvez – da nossa parte – se reagiu com violência, desencadeando uma espiral de impropérios.
E todavia na origem havia o nada, apenas uma pura e simples falha, quem sabe até divertida, ou – e é este o paradoxo do apólogo citado – nada mais do que o desejo de oferecer uma ajuda ou agradar.
É por isso que o autocontrolo nunca é demasiado. Tinha razão o salmista quando se propunha: «Vigiarei sobre a minha conduta para não pecar com a minha língua, porei um freio na minha boca» (39,2). Uma má palavra dita não morre, pelo contrário, começa a viver e a provocar estragos.
[P. (Card.) Gianfranco Ravasi | In Avvenire]