Jogo e fantasia
«O princípio que move a fantasia é o jogo, típico da criança, e à primeira vista incompatível com o trabalho sério. Mas sem este jogar com a fantasia, nunca nascerá uma obra de arte.»
A dívida que temos com o jogo e com a imaginação é incalculável. Na margem do lago, onde estou de férias, sigo com curiosidade três crianças totalmente absorvidas no jogo. As suas avós conversam e, de vez em quando, lançam-lhes um olhar distraído.
Eu, ao contrário, dou-me conta de que uma está a delinear na areia uma rede de estradas, através da qual faz avançar um carrinho. É um jogo que retraça a vida de quem é obrigado a viver na cidade; mas aqui é ela o árbitro, e vê-se claramente que é ela a decidir percursos e obstáculos.
Quando éramos crianças, bastava-nos muito menos para acender a fantasia: ainda não esqueci o meu ganso de madeira com rodinhas que recebi de presente aos três anos.
Tem razão Jung, o famoso artífice (com Freud) da psicanálise, com a nota acima, que extrai dos seus “Tipos psicológicos”. Não se dá criatividade, arte, verdadeira humanidade, sem o jogo puro (não, decerto, a histeria do estádio), a imaginação, a fantasia.
Os nossos jovens, infelizmente, fixados na playstation, têm já tudo elaborado diante deles: basta apenas carregar em botões para produzir inclusive o impossível. A criação livre e pessoal, a efervescência da mente e do coração, a evocação alusiva da leitura são agora esterilizadas e modeladas.
Reencontremos também nós, adultos, nestes dias de quietude, o exercício do pensamento, da inspiração, da poesia, do sonho, da gratuidade, dando uma trégua ao cálculo, à programação, ao lucro imediato.
[P. (Card.) Gianfranco Ravasi | In Avvenire]