Os dois tipos de desgraça

Razões para Acreditar 21 setembro 2019  •  Tempo de Leitura: 1

«As calamidades são de duas espécies: a desgraça que nos cabe, e a fortuna que cabe aos outros.»

 

É um diabo afável, e não decerto sulfuroso, aquele que, com ironia, desvela os seus campos de ação no “Dicionário do diabo”, obra de um aventuroso e algo extravagante escritor norte-americano, Ambrose Bierce (1842-1914), desaparecido no México durante a revolução zapatista.

 

Como será possível não reconhecer a verdade da citação? Quantas vezes, perante o sucesso de uma pessoa, criámos uma cortina fumarenta de sarcasmos, recriminações e até de desdenho.

 

É verdade que algumas conquistas na carreira profissional podem deixar-nos desconcertados e dever-se à sorte, ou até remeter para o domínio do escândalo.

 

Mas devemos reconhecer que o caruncho da inveja ataca inexoravelmente o nosso coração diante do triunfo de um amigo, e toda a retórica das congratulações é riscada pelo secreto veneno da amargura e do ciúme.

 

Tinha razão Oscar Wilde quando dizia que é muito fácil abraçar e consolar um amigo em sofrimento e humilhado, mas que é heróico, e quase impossível, estar na plateia a aplaudi-lo com sincero entusiasmo quando está no dia da glória.

 

Exercício duro e ascético é aquele proposto por Paulo na carta aos Romanos 12, 15: «Alegrai-vos com aqueles que estão na alegria» (além de «chorar com aqueles que estão no pranto»).

 

[P. (Card.) Gianfranco Ravasi | In Avvenire]

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