Acolhamos quem está só no Natal
Estamos na véspera de Natal, uma festa “tradicional”, celebrada não só pelos cristãos, que fazem memória do nascimento de Jesus em Belém, da sua vinda ao mundo através de uma mulher, Maria de Nazaré, de um acontecimento humaníssimo mas capaz de grandes significados: um nascimento na pobreza, uma esperança colocada neste menino por parte de pastores pobres e sábios chegados do Oriente, uma perseguição às mãos do poder tirânico de Herodes.
Todos estes acontecimentos e mensagens que na cultura ocidental, ainda que não sejam recordados numa ótica de fé, continuam a ser eloquentes para muitos. Esta festa impõe-se ainda hoje na nossa sociedade secularizada e desperta sentimentos, inspira comportamentos, amplia desejos de paz e felicidade. E não podemos esquecer que esta data é sentida como pesada e difícil de viver para quem está só, para quem não tem ninguém com quem festejar.
Os católicos foram convidados pelo papa Francisco a não abandonar a tradição do presépio feito em casa, sobretudo pelas crianças. Todos nós recordamos como na nossa infância a preparação do presépio nos envolvia a procurar o musgo dos bosques, a merecer o presente das figurinhas dos vários personagens, a predispor luzes e velas para que fosse uma presença feliz e capaz de infundir a toda a nossa casa uma atmosfera especial. Junto ao presépio encontrávamos os presentes do Menino Jesus, tão esperados, muitas vezes proporcionais ao nosso desempenho escolar…
Hoje tudo isto mudou profundamente, mas o presépio pode ainda comunicar-nos uma mensagem, porque representa a convergência de pobres e modestos pastores, de viajantes e estrangeiros, de peregrinos e mendigos, de sábios e reis em torno de um recém-nascido, de um menino invocado como rei pelos pobres e por quantos esperam justiça e liberdade. O presépio convoca todos, à sua volta não há muros, nem barreiras, nem fronteiras; apenas resta, ameaçador, mas distante, o castelo de Herodes, o poderoso tirano.
Recentemente, alguns cristãos assumiram a organização de refeições para os pobres e para quem está só, recolhendo-os em salões paroquiais ou em igrejas. Boas ações, certamente, mas eu sonho que nestes dias das festas cada família, cada núcleo de convivência, chame à sua mesa alguém que esteja só entre os imigrantes, os pobres, os velhos sós: sim, à sua mesa! Esta seria uma ação capaz de exprimir uma partilha e uma solidariedade não ostentada, nem mesmo em nome do serviço a favor de uma categoria particular de pessoas: o simples acolhimento de homens e mulheres como nós, arrancados à sua solidão e convidados a fazer festa juntamente connosco.
Este seria um verdadeiro Natal, uma natividade da comunhão humana. E estou certo de que Jesus Cristo, o Deus dos cristãos, sentir-se-ia desta maneira compreendido e verdadeiramente acolhido aqui e agora. Precisamente como escrevia no século XVII o místico Silesius: «Ainda que mil vezes nascesse Jesus em Belém, de nada vale se não nasce em ti». Ou: «Podes acolher mil vezes Jesus com um presépio, mas de nada vale se não acolhes em tua casa quem passa necessidade».
[Enzo Bianchi | In Monastero di Bose]