Lugares comuns
«Todo o pensador que quiser tornar-se orador, todo o homem de espírito e de coração que quiser tornar-se e ser eloquente, mover as massas, dominar as assembleias, agitar os impérios com a sua palavra, não tem de fazer mais nada a não passar da região das ideias ao território dos lugares comuns.»
«Não há nada de mais belo do que o lugar comum»: assim anotava nos seus “Diários” íntimos o poeta francês Charles Baudelaire, registando um fenómeno constante na história da humanidade.
É também o mesmo que acentuava de maneira mais articulada outro autor francês, o famoso Victor Hugo, que na frase citada assinalava o uso perverso que o homem sem escrúpulos pode fazer de ideias ou juízos infundados, ou pelo menos parciais, fazendo-os passar por verdade precisamente por serem, aparentemente, lógicos e aceitáveis.
O lugar comum impera na linguagem publicitária e política, mas ataca também outras áreas da existência pessoal e social, incluindo a religiosa. Com efeito, é mais árduo raciocinar, procurar, avaliar, documentar: a «região das ideias», como a denomina Hugo, é um território em que se deve avançar com cautela.
Muito mais ágil e plano é o «território dos lugares comuns», onde basta a frase que arranca o aplauso, ou onde é suficiente dizer aquilo que o público espera, ou introduzir aquele “bom senso” que, na realidade, é só comodidade, banalidade e inércia.
A longa onda dos lugares comuns, pela qual é fácil deixar-se levar, ou que agilmente se cavalga, acompanha agora todos os dias a nossa vida. Vale, por isso, a advertência de outro francês, o grande Pascal, que convidava não a «bem pensar» (o bem-pensante segue a dominante social), mas a «pensar bem», seriamente e fundadamente.
[P. (Card.) Gianfranco Ravasi | In Avvenire]