Três impedimentos à oração: Distrações, inconstância, trabalho
As distrações
Ter distrações faz parte da psique, e requer muito exercício para aprender a concentrar-se unificando os pensamentos, a mente, o coração e o corpo: esta é uma operação de maturidade e de higiene humanas, antes ainda de ser uma operação espiritual.
É normal que mesmo durante a oração surjam distrações: as preocupações, os ecos, as imagens, os sons da vida quotidiana que arrastámos para o momento de nos colocarmos em oração, assim como as muitas presenças que habitam nas nossas profundidades, emergem e manifestam-se imperiosamente mal se entra na condição de solidão e de silêncio necessária à oração.
Ao rezar, é inevitável que se encontrem distrações, em maior ou menor medida, mas elas não podem ser uma desculpa para não orar: as distrações não tiram eficácia à oração, porque ela permanece um ato de amor. Certamente é preciso lutar contra elas, mas sem fazer delas uma obsessão; muitas vezes é preciso saber integrá-las na oração, lança-las em Deus (cf. 1 Pedro 5,7), isto é, transformá-las em ocasião de oração, para assim tender a uma unificação cada vez mais profunda da nossa pessoa; a oração perderá em unidade, mas poderá beneficiar em riqueza.
Um erro a evitar é o de pensar que se deve “fazer vazio em si mesmo”. O silêncio que introduz à oração cristã não é pura negatividade, mas abertura à escuta da Palavra e à inabitação da presença de Deus em nós: trata-se de preencher todo o nosso ser desta presença, ou melhor, de darmo-nos conta de que ela já mora em nós. Por outras palavras, é Deus que pode libertar-nos das distrações, é a contemplação da sua imagem gloriosa e poderosa que refulge no rosto de Cristo que nos liberta dos olhares sobre nós mesmos, não a vontade ou o esforço com que oramos.
Sim, é preciso fazer habitar em nós a sua Presença, contra as presenças que arriscam dominar em nós até se tornarem monstruosas; na consciência de que se trata de um caminho a retomar com paciência a cada dia, entre altos e baixos… Ilude-se quem pensa que vence as distrações de uma vez por todas: o importante é não desencorajar-se, não negligenciar a oração.
Sou inconstante
Também esta dificuldade não deve surpreender: todos conhecem períodos de aridez, em que já não se consegue rezar, em que se fica deprimido ao ponto de considerar impossível a oração. A oração não está isolada da vida concreta, mas é sempre a eloquência de uma relação entre dois seres vivos: o orante e Deus. Conhece, por isso, tempestades e bonanças: nada está ganho definitivamente na vida de oração, e nada se perde para sempre. É preciso perseverança, muita paciência consigo próprio, e muita disciplina e ascese, para não se darem estruturas patológicas na relação com o Senhor.
Recorrer a Deus só na necessidade, tentar o diálogo só quando se sofre de solidão ou de angústia, ter presente Deus só quando se vive uma situação poética ou estética significativa impede que a oração se torne madura, robusta, autêntica. O cristão não pode ser “o homem de um momento, sem raiz em si mesmo” (cf. Mateus 13,21), esmagado entre um passado de que se arrepende, um presente a que não sabe aderir e a um futuro que não sabe projetar. Ele deve subtrair-se ao mito do “fazer experiências” de curto prazo, para tender, ao contrário, a enraizar-se numa história com o Senhor, uma história fiel e capaz de durar no tempo.
A nossa inconstância manifesta-se com intensidade sobretudo quando compreendemos que a oração supõe um passo de conversão dos desejos e da vontade humana ao desígnio de Deus, que por vezes nos contradiz dolorosamente. Mais cedo ou mais tarde acontece a todo o orante percecionar na oração uma contradição profunda entre a sua vontade e a de Deus: são os tempos em que Deus parece longínquo, e deixa de se ver com clareza o seu rosto amoroso e paterno. A oração torna-se uma prova, e quanto mais alguém ora, tanto mais se desencadeiam os “inimigos”, essas forças irracionais e hostis a Deus que habitam as profundidades do coração ainda não evangelizadas. É necessário, então, a perseverança, o orar sem cessar, a espera pelos tempos de Deus, e, ainda que não se consiga continuar a rezar, é preciso continuar a oferecer, unida à aridez do coração, a presença do seu corpo débil e rebelde à fadiga da oração.
Trabalhar, comprometer-se é orar
«Trabalhar é orar», afirma um slogan bastante difundido. Mas se verdadeiramente há equivalência entre as duas ações, porque é que quase todos os homens estão dispostos a trabalhar, enquanto tão poucos estão dispostos a orar?
Para o cristão, trabalhar sem que o empenho seja irrigado pela oração é cumprir uma atividade sem peso espiritual, uma atividade pronta a degenerar em ativismo estéril, e por vezes, até, em ação insensata, porquanto não gerada pela paz, não enraizada na profundidade do coração, não orientada segundo a vontade de Deus.
É a oração, ao contrário, que pode tornar-se ação, quando ela é o lugar do reconhecimento de Deus e dos irmãos, quando quem reza tem o coração em Deus. Quem não conhece o rosto de Deus na oração, dificilmente o reconhecerá quando na ação – ainda que seja a mais dispendiosa e generosa – esse rosto lhe aparecer através do rosto das vítimas e dos humilhados. Também Paulo adverte que, sem o “ágape”, mesmo a distribuição dos bens pessoais aos pobres, ou a entrega do corpo ao martírio, não serve de nada (cf. 1 Coríntios 13,3); e o “ágape” não se consegue sem a oração.
Não se faça, por isso, automaticamente da ação uma oração, e, sobretudo, não se separem oração e ação, vida de fé e prática no mundo, delegando a oração para os monges ou para os solitários contemplativos. É verdade que há quem procure Deus na oração para escapar mais ou menos conscientemente à arduosidade do trabalho, à dureza da vida fraterna, às responsabilidades comuns, e dela faz um álibi para subtrair-se à ação evangélica; mas não é por isso que se deve negligenciar a oração, verdadeira iniciação à ação no mundo segundo a vontade do Senhor. Sem nos situarmos no desígnio de Deus, com efeito, não é possível realizá-lo operando e trabalhando no mundo.
Portanto, não é verdade que “trabalhar é rezar”, mas o contrário, “rezar é trabalhar”, no sentido de que o esforço da oração, que é «o esforço do amor» (1 Tessalonicenses 1,3), pode preencher de sentido cada uma das nossas ações na companhia dos homens.
[Enzo Bianchi | In Perché pregare, come pregare, ed. San Paolo]