Viver no bem
Na nossa vida, pelo menos na perceção dela, ouve-se muitas vezes dizer que é o mal a levar a melhor. Em cada lugar, independentemente da extração social e cultura, o ser humano diz-se que não há esperança alguma, que estamos destinados ao malogro, que a raça humana é maldita, que todo o universo não é mais do que um amontoado de nada.
Quer seja no escritório ou no supermercado, ou pior ainda, nas nossas casas, o ser humano não se concede felicidade, nem alegria, nem confiança para com o próximo. A vida como um vale de lágrimas, em que os mais afortunados podem aceder a instantes de bem-estar, ditados, obviamente, pelo acaso ou pelas possibilidades económicas.
Nesta leitura da vida que nos é dada viver, para nossa suma desgraça, a verdadeira diferença é feita pela posse, pelo dinheiro e pelos bens, pelo poder. Parece um cenário exagerado, no entanto muitos, muitíssimos, quando olham para a sua vida, não parecem vislumbrar nada mais do que este deserto, onde só o mal pode ser levado em triunfo.
Mas basta observar realmente, cessar o preconceito, abandonar-se totalmente à experiência da realidade, para se dar conta que é verdade o contrário. O exato contrário. O ser humano é constantemente atravessado pelo bem, faz-se dele ator inconsciente, vê-o concretizar-se diante dos seus olhos sem que minimamente se dê conta.
Não se fala de grandes sistemas, de conceitos, teorias. A marcha majestosa do bem acontece dentro da realidade, nos pequenos gestos diários, em todas aquelas ações que permitem ao ser humano definir-se como tal, as ações que antepõem o amor a tudo o resto. Basta prestar atenção, colocar o mundo à frente dos olhos, profundamente.
Através de todas as suas maravilhosas declinações, do amor por um filho à compaixão por um desconhecido, passando por um gesto que piedade que nos surpreender, é sempre o bem a marcar o passo.
Em vez de constatar a vitória do mal, de falar de um mundo envenenado pela dor, o ser humano deveria perguntar-se a cada dia de que parte quer estar, se pertencer ao exército dos vivos, que olham verdadeiramente para as coisas da existência, ou do outro, o dos que adoeceram de falta de visão, que renegam constantemente a raiz da sua existência.
O bem. Não um pensamento, ou um raciocínio complicado. O bem como substância profunda do nosso agir.
[Daniele Mencarelli | In L'Osservatore Romano]