As paróquias devem educar guerrilheiros
Ser criança é uma etapa que, tantas vezes, demasiado cedo se extingue. Acontece quando esse fantástico vulcão em erupção que transborda de fantasia, invenção, curiosidade, ideias e criatividade é reduzido a um deserto banal privado de vida, a não ser aquela que é induzida pelo mercado.
No “Manual para a educação do pequeno consumidor” (2000), escreve-se: «A publicidade deve induzir a criança a reter que a falta de posse do produto publicitado significa inferioridade, falha dos deveres dos pais, marginalização. A criança convencida de estar privada de algo que todos devem ter, tornar-se-á a mola mais eficaz para convencer os pais à aquisição».
É tão simples, e, de facto, funciona. Poucas são as crianças que não se prostram diante do bezerro de ouro. Deveriam ser assistidas, encorajadas, reforçadas. Não abandonadas a si próprias. O mundo dos seus colegas é, em larga parte, um mundo hostil, que ridiculariza e exclui. Mesmo as crianças que vivam em famílias não particularmente devotas, merecem atenção da parte do mundo dos crentes, de quem proclama, lendo as palavras inscritas no coração: «Não terás outro Deus além de mim».
Crianças assim precisam de um ambiente onde, juntamente com os seus amigos, orientadas por adultos conscientes, se sintam menos sós. Não são elas as insensatas, elas que resistem às adulações do deus mercado; insensatas são as crianças e jovens que não só se prostram aos seus pés, como o servem com denodo, proclamando-lhe a superioridade, e fazendo sentir estúpido quem não se alinha, escarnecendo-o e excluindo-o. Uma criança excluída precisa de companhia. Precisa de uma cultura alternativa de apoio.
Ou o Evangelho ilumina a vida, e dá felicidade a quem o recebe, ou acontece aquilo que muitas vezes acontece: as crianças crescem e desaparecem, correndo atrás daquilo que dá respostas saciáveis, ainda que falsas. Mudam de fé, casando-se com o materialismo e o ateísmo prático, nos quais estão mergulhados desde o dia em que nascem
Se crianças assim vão à catequese, o que recebem do catequista? Talvez noções bíblicas elementares. Aprendem quem são Abraão e David. Alguma coisa também sobre Jesus. As orações fundamentais. Serão preparadas para os sacramentos. Tudo noções basilares para poderem dizer-se cristãs. Mas estes ensinamentos, isolados, conseguirão dar um sentido à sua vida? Fornecem as chaves de leitura necessárias, inclusive para uma criança, para compreender o mundo em que estão mergulhadas todos os dias, o mundo dominado pelo deus mercado, pelas suas solicitações, e pelos tantos colegas que lhe obedecem?
Todas as crianças buscam a felicidade. Vendo, à sua volta, tantos colegas que se apresentam felizes, felicíssimos ao depositar o sentido da sua vida na posse e consumo de bens, por muito que tudo isso lhe pareça estúpido, perguntar-se-á: porque é que eu também não me adapto, deixando de resistir e sofrer? Porque é que não cedo, para ser, finalmente, aceite, e deixar de estar só? Os «pequeninos», evocados no Evangelho dos dois últimos domingos, são quase sempre obrigados a desenvencilhar-se. Nem os pais podem ser suficientes. Precisam de coetâneos semelhantes a eles. Mas onde os encontrarão?
É também para isso que serve a comunidade paroquial. E os catequistas deveriam ser mediadores inteligentes, capazes de falar do bezerro de ouro da Bíblia, e dos bezerros de ouro da nossa sociedade, que querem fazer-se adorar pelas crianças. Ou o Evangelho ilumina a vida, e dá felicidade a quem o recebe, ou acontece aquilo que muitas vezes acontece: as crianças crescem e desaparecem, correndo atrás daquilo que dá respostas saciáveis, ainda que falsas. Mudam de fé, casando-se com o materialismo e o ateísmo prático, nos quais estão mergulhados desde o dia em que nascem.
As paróquias devem educar pequenos guerrilheiros.
[Umberto Folena (adapt.) |In Avvenire]