Rezar sozinho
A oração silenciosa pode ser vivida em grupo, mas a sua prática quotidiana é, a maior parte das vezes, solitária, exceto em certas comunidades. Aqueles e aquelas que reconhecem nessa maneira de rezar um caminho de oração conveniente para si, devem encontrar as condições práticas que lhes permitirão rezar todos os dias. Se essa forma de oração for praticável em condições muito variadas, em viagem ou em férias, visto não requerer nenhum material particular, é facilitada, contudo, por uma aplicação estável na vida quotidiana: um lugar, um horário, uma posição, um pequeno ritual pessoal que marque o início e o fim desse momento consagrado a Deus.
Um lugar destinado à oração
Quando se quer estabelecer uma prática regular, viver esse momento sempre no mesmo lugar ajuda muito. Quer seja no quarto, quer num lugar tranquilo da casa ou na igreja do bairro, se esta estiver aberta, o essencial é encontrar o lugar que favoreça a calma e a oração. Não se trata de um lugar onde Deus está mais presente do que nos outros, mas de um lugar que nos ajude.
Dizia Mestre Eckhart:
«Que uma pessoa vá para os campos, faça aí a sua oração e conheça Deus, ou fique na igreja e aí conheça Deus: se conhece melhor a Deus por estar num lugar tranquilo, como esse tipo de lugar costuma ser, a causa reside na sua fraqueza, e não em Deus, pois Deus é o mesmo em todas as coisas e em todos os lugares».
De igual modo, cada um poderá encontrar a forma de arranjar esse lugar de oração, colocando uma vela, uma imagem, um ramo de flores, coisas simples que não requerem tempo nem esforço em termos de uso. O santuário onde Deus quer ser adorado, diz Jesus à Samaritana, é o coração do homem. Embora as condições materiais possam favorecer o recolhimento, devem ser adaptadas a cada um e nunca se devem tornar indispensáveis: deveríamos ser capazes de adorar a Deus em espírito e em verdade em qualquer lugar.
Uma duração estável
Não sendo idênticos, os nossos dias assemelham-se, e as nossas semanas também. Isso ajuda muito a fazer entrar a oração nos ritmos da vida corrente. Alguns rezam melhor de manhã, outros à noite; o importante não é dar orientações válidas para todos. Por outro lado, é difícil ser fiel à oração quotidiana sem estabelecer uma certa regularidade nela.
Se uma pessoa decide rezar apenas quando lhe apetece ou quando tem tempo, não rezará muitas vezes. Além disso, tal atitude coloca o próprio desejo na origem da oração. Esse fundamento seria muito frágil numa relação humana. Será que uma pessoa se ocupa dos filhos quando lhe apetece ou quando arranja tempo para isso? Será que nos tornamos disponíveis para aqueles a quem amamos apenas no dia em que o desejamos? Abrir a porta a um amigo que precisa de ajuda, passar uma parte da noite junto de um filho doente, são coisas que não se fazem porque nos apetece. Fazemo-lo porque é necessário fazê-lo, porque é normal fazê-lo e por que sabemos que renegaríamos a nossa própria pessoa se não o fizéssemos.
Também é bom considerar a oração da forma seguinte: um encontro marcado com Deus, que constitui uma prioridade. Temos sempre muitas coisas a fazer na hora da oração. Coisas importantes e urgentes, de preferência... Porém, se dia após dia optarmos por nos mantermos fiéis àquilo que decidimos fazer – quer dizer, a não fazer nada, estando apenas com Deus e para Deus, durante algum tempo –, exprimimos e mostramos a nós mesmos que esse tempo consagrado a Deus é a coisa mais importante. Escrevia o padre Le Saux, monge beneditino da Índia:
«Os momentos da vida que o homem consagra a essa oração de silêncio constituem a oferenda mais elevada que ele é capaz de alguma vez fazer a Deus, o maior de todos os cultos espirituais».
A fidelidade também se apoia no tempo consagrado diariamente à oração. Se a duração da oração depende daquilo que eu sinto, ela tem a probabilidade de ser cada vez mais curta, visto que eu não sinto nada. E se um dia estou emocionado (ou com sono...), terei tendência para prolongá-la. Mais uma vez, neste caso, agindo assim, colocamo-nos a nós mesmos no centro, em vez de darmos lugar a Deus. Pode parecer formal fixar uma duração e manter-se fiel à mesma, aconteça ou que acontecer, em termos de tédio ou de êxtase. Contudo, é essa a melhor forma de nos mantermos fiéis e de honrarmos esse momento em que tudo para porque é um tempo oferecido a Deus, como que uma forma de responder ao apelo do Salmo 45: «Parai! Reconhecei que Eu sou Deus.»
A duração recomendada é de vinte e cinco minutos. Com efeito, são necessários pelo menos vinte minutos para termos a impressão de uma oração perdurável. Se esse tempo de oração for um tempo de pausa na presença de Deus, devemos ter tempo para saborear o tempo que passa, a rutura com o ritmo do resto do dia. Se a pausa durar cinco minutos, não teremos verdadeiramente a impressão de ter parado. Por outro lado, é aconselhável que não se mantenha uma mesma postura imóvel durante mais de trinta minutos, correndo-se o risco de ficar anquilosado, e até de provocar problemas circulatórios. Vinte e cinco minutos situam-se, portanto, entre esses dois extremos.
Se ao princípio isso parecer um tempo excessivo, é possível começar por rezar menos tempo, dez minutos, por exemplo. Durante esse breve espaço de tempo, estabeleça a postura, a maneira de rezar e a fidelidade de cada dia. É muito provável que depressa sinta a necessidade de prolongar um pouco a duração da oração, até vinte e cinco minutos; é essa a experiência que muitos fizeram antes de si. Em qualquer caso, porém, o mais importante para o espírito desta oração é que ela se faça por um tempo determinado, que este não seja mudado diariamente.
Se num retiro, ou durante as férias, for possível rezar mais tempo e se sentir o desejo de prolongar a oração silenciosa, poderá encadear unidades de vinte e cinco minutos, inserindo alguns minutos de relaxamento físico entre cada duas unidades. Uma caminhada muito lenta na divisão, por exemplo, permite fazer um pouco de exercício sem sair do ambiente de interioridade que é o da oração. Algumas pessoas apreciam aquela prática deambulatória muito particular que provém do zen, e que consiste em levantar um pé do chão só depois de o outro estar bem assente nele, fazendo-o o mais lentamente possível.
Como começar e como terminar?
Um pequeno ritual pessoal é estabelecido por todos aqueles que praticam esta oração, para marcar o início e o fim da oração. Alguns precisam de viver um tempo intermédio, para sair das suas atividades, pondo música, por exemplo, ou fazendo alguns exercícios de yoga. Outros leem um texto da Bíblia ou de algum autor espiritual, antes da oração ou à laia de conclusão. O Pai-nosso pode introduzir a oração, como recomendava Teresa de Ávila; mas também pode constituir a sua conclusão. Cabe a cada um ver o que lhe convém em função do seu temperamento, do lugar e do momento em que reza.
Por fim, resta-nos a questão de saber como contar o tempo. Com efeito, pode ser muito incómodo, em termos de oração, ter o relógio pousado à nossa frente e ver os minutos avançar, lamentando-nos por não avançarem mais depressa... É indispensável, sobretudo aos debutantes, libertarmo-nos do cuidado da passagem do tempo. Se morarmos ao lado de um edifício público ou de uma igreja cujo relógio dê as horas, pode ser possível aproveitar esse sinal, se a oração for feita todos os dias à mesma hora. Se optarmos por um instrumento que meça o tempo – despertador, temporizador, telemóvel –, deveremos velar por que o sinal sonoro não seja demasiado brutal, pois correríamos o risco de ter um sobressalto no momento em que o aparelho toca, e, no dia seguinte, passaríamos o tempo da oração com receio desse momento e a olhar para o relógio para desligar o despertador antes de ele tocar. Hoje em dia também é possível registar uma sequência incluindo um sinal de início (toque de gongo, sino, versículo da Bíblia...), vinte e cinco minutos de silêncio e um sinal de conclusão. Evita-se assim ter de fazer marcações diárias do despertador, bastando acionar a leitura da sequência num computador ou num MP3. Em suma, todas as adaptações devem ser incentivadas, desde que nos libertem da preocupação com a contagem do tempo.
E se abandonámos a oração?
A prática da oração silenciosa pode parecer bastante austera, em determinados momentos, mas que forma de oração não o será? Alguns estabelecem um lugar e um tempo, e começam com uma grande fidelidade, mas depois o entusiasmo dissipa-se, e uma manhã deixam-se ficar na cama, depois vão de férias, e certo dia tomam consciência de que há três meses que não rezam. Deverão concluir que não é possível rezar, que é demasiado difícil, e que estavam engana dos pensando que eram uns místicos? Seria pena, pois todos aqueles que tentam a aventura da oração passam por isso. E não é por se rezar regularmente há vários anos que se está livre de cair nesse engano. As férias, sobretudo, são momentos terríveis para a oração. Julgamos sempre que teremos mais tempo, que será mais fácil, e é completamente ao contrário. A mudança de ritmo e de lugar e a desorganização dos dias são inimigos temíveis em termos de regularidade.
Se tomarmos consciência de que abandonámos a oração há dois dias, duas semanas ou dois meses, a única coisa a fazer é sentarmo-nos e recomeçar. Assim como durante o tempo de oração a nossa atenção a Deus se vai mantendo, mal ou bem, apesar de todo o tipo de imagens e de distrações que nos tentam desviar para outras coisas, também ao longo dos dias e dos anos a nossa fidelidade à oração passa por falhas e esquecimentos, devido aos quais não devemos ficar pesarosos nem tirar outra conclusão a não ser o apelo a recomeçar. Com uma grande paciência, vai-se estabelecendo um certo hábito, mas este não nos protege de esquecimentos nem de falhas. Permite apenas que sejamos mais rapidamente sensíveis ao facto de que falta qualquer coisa no nosso dia quando omitimos o tempo de oração habitual. O dia carece de centro de gravidade, surpreendemo-nos a trabalhar como loucos, a enervar-nos por coisas sem importância... A oração silenciosa já não tinha lugar há vários dias, várias semanas, vários meses? Tomar consciência disso não deve ser fonte de um sentimento de indignidade ou de desânimo, devemos simplesmente recompor-nos e reencontrar o caminho da oração, eventualmente como debutantes, tentando, no início, reservar dez minutos ou um quarto de hora por dia, até recuperar o gosto pelo silêncio.
[Jean-Marie Gueulette, op | In Pequeno tratado da oração silenciosa, ed. Paulinas]