Seis pistas para cultivar a gratidão cristã
«Gratidão»: a palavra reina na capa de vários livros dedicados ao desenvolvimento pessoal. A psicologia positiva e as neurociências asseguram: aprender a ver os presentes de cada dia torna-nos mais felizes. Para os cristãos, a gratidão é sinónimo de ação de graças. «Ela está não só no coração, mas é “o” coração da nossa fé: a palavra “eucaristia” vem do grego “eucharistein”, que significa “dar graças”, lembra o P. Lionel Dalle, autor de “Milagre da gratidão” (Éditions Emmanuel). Eis algumas pistas extraídas desta obra escrita como um manual, «para ajudar os cristãos a reencontrar esta prática tão simples e tão poderosa».
Uma disposição interior
A gratidão é a tomada de consciência de um benefício recebido, que nos toca, e pelo qual somos conduzidos a agradecer ao seu autor. É uma virtude humana, quer dizer, uma disposição interior adquirida por repetição a fazer o bem, facilmente, firmemente, e com alegria. A gratidão é a nossa resposta ao amor transbordante do Pai, que nos deu o dom da vida, e nos enviou o seu Filho para nos salvar.
Uma virtude que se trabalha
Segundo o nosso carácter, somos mais ou menos inclinados para ela, mas todos podemos trabalhar para cultivar esta atitude. A gratidão compara-se a um músculo, que podemos exercitar para ganhar em espontaneidade. Os «momentos da gratidão» são três: reconhecer o benefício, sentir a emoção que dele deriva, agradecer, concretizando uma ação. Cada um corresponde a uma faculdade do ser humano: a inteligência, a afetividade, a vontade. Por isso a gratidão equilibra-nos, ao mobilizar-nos inteiramente.
A litania do Obrigado
A poeta Marie Noël narra nas suas “Notas íntimas” como fez evoluir o seu exame de consciência da noite nas «litanias do Obrigado»: «Já não procuro os meus pecados, mas as minhas dívidas. Revejo no meu coração tudo aquilo que recebi de outros ao longo do dia, toda a pequena – ou grande – bondade do homem que me deu uma esmola, depois do padre que me disse a missa da manhã (…), até à mulher que colheu no seu jardim um punhado de azedas para a minha sopa». E acrescenta: «Creio que este exercício de reconhecimento tão confiante, tao afetuoso, deve agradar a Deus tanto quanto a mim – bem mais que, dantes, as minhas escavações da consciência. E ainda: «Se eu fosse madre abadessa, ou simplesmente mãe de família, ensiná-lo-ia às minhas filhas».
Ter um caderno da gratidão
Pode ter-se um caderno onde se anota a cada dia pelo menos três coisas belas que se viveram. Partilhar as suas notas com o companheiro ou um amigo, para se entreajudar e iniciar um diálogo fecundo. Igualmente, redigir a listas dos 15 grandes momentos da sua vida, para os agradecer ao Senhor, e relê-la regularmente, de maneira a permanecer confiante na sua presença ao seu lado.
Aprender a parar
Programar (porque não através de lembretes no telemóvel?) tempos de paragem durante o dia para tomar consciência de que se é amado por Deus e habitado pela sua presença. Dirigir-lhe algumas palavras, antes de retomar a atividade. “Stop-look-go”, como resume o monge beneditino David Steindl-Rast.
Fonte de múltiplos benefícios
De acordo com este religioso, «não é a felicidade que nos insere na gratidão, mas a gratidão que nos insere na felicidade». Claire Le Go, que anima o blogue Gratidão e Companhia, fez disso experiência, especialmente o ano passado, durante o seu cancro: «Guardar os presentes de cada dia – a presença dos meus amigos, a atenção dos cuidadores – ajudou-me a atravessar a doença. Apesar da profunda fadiga devida aos tratamentos, posso dizer que passei bem. Não se trata de interditar as emoções negativas, mas de deter-se nos bons momentos. Adotar essa atitude tem efeitos benéficos em todos os domínios da vida: a confiança em si e a aceitação do seu corpo, as relações familiares ou de amizade, a vida espiritual, e mesmo um modo de vida mais sóbrio». E conclui: «Dizer obrigado e senti-lo muitas vezes muda a vida!».
Aurélia Pénicaut, de 44 anos, transmite outro testemunho dos proveitos da gratidão: «Integrei alguns dos exercícios práticos do livro do P. Lionel Dalle no meu dia a dia; por exemplo, dizer uma curta oração pela manhã para pedir ao Senhor para estar na gratidão, ou parar alguns segundos para dizer «obrigado, meu Deus» quando ouço as minhas filhas tocar música, ou quando sinto o bom aroma de um bolo cozinhado pelas minhas crianças – sem pensar na desordem que deixaram na cozinha… Outrora, estes pequenos truques ter-me-iam parecido algo ridículos, mas hoje ajudam-me realmente a acolher o instante como um presente. Pouco a pouco, é um estado geral que se instala, uma disposição para ver o belo, que foi a fonte de profundos intercâmbios com o meu marido. Enervo-me menos, sem perder o meu carácter».
[Gwénola de Coutard |In La Vie]