Quando a fé se desliga da cultura, por Tolentino Mendonça

Razões para Acreditar 10 fevereiro 2021  •  Tempo de Leitura: 1

Em 1965, ano de clausura do Concílio Vaticano II, o teólogo Jean Daniélou publicou um volume de título surpreendente, que desencadeou um aceso debate: A oração, problema político. Como o autor explicou, tratava-se de um risco calculado.

 

Escreve ele: «A política e a oração são duas realidades que não temos o hábito de confrontar uma com a outra. No entanto, se escolhi este título, fi-lo em plena consciência, porque me pareceu essencial sublinhar, de maneira talvez algo provocatória, que entre o domínio do homem interior e o do progresso não deveriam haver distâncias radicais».

 

Daniélou via na separação entre religião e civilização um duplo perigo, que penaliza tanto uma como outra.

 

Uma fé desligada da cultura depressa se encontra reservada a uma elite espiritual, e perde a condição de acessibilidade e universalidade que é chamada a ter.

 

Uma cultura separada da fé fica incompleta, e consequentemente deixa de representar dimensões e necessidades fundamentais da pessoa humana.

 

Por isso, Daniélou julgava que uma reflexão sobre a oração e sobre as suas práticas não era uma questão apenas interna aos crentes, mas uma questão de cidade e de cidadania.

 

Sobre a oração, Novalis escreve uma coisa muito clarificadora: «Rezar é na religião aquilo que é o pensamento na filosofia. Rezar é fazer religião».

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