Páscoa: Festa dos túmulos que se abrem, dos corações que se libertam
Três mulheres, pela manhãzinha, quase clandestinamente, naquela hora em que se passa da escuridão à luz, vão cuidar do corpo de Jesus, como sabem, com o pouco que têm. Amam o seu mestre mesmo estando morto, e descobrem que o tempo do amor é maior que o tempo da vida, à medida que passam de surpresa em surpresa: «Olhando, viram que a pedra já fora revolvida; e era muito grande» (cf. Marcos 16, 1-7, Evangelho da Vigília Pascal).
A Páscoa é a festa dos rochedos rolados para fora, das pedras reviradas da entrada do coração. Espanto, desorientação, medo, ainda assim entram, frágeis e indómitas, de encontro a uma surpresa ainda maior: um mensageiro jovem (todo o mundo é novo, fresco, juvenil, naquela manhã) com um anúncio que parece ser a bela notícia tão esperada: «Jesus, que vistes crucificado, ressuscitou».
Deviam ter rejubilado, em vez disso emudecem. O jovem insta, «não está aqui». Que bela esta palavra, «não está aqui», Ele está, vive, mas não aqui. Ele é o vivente, um Deus que surpreende na vida. Está, mas deve ser procurado fora do território dos túmulos, antes pelas estradas, pelas casas, em todo o lado, exceto entre as coisas mortas. «Ele está em cada opção por um amor maior, está na fome de paz, nos abraços dos amantes, no grito vitorioso do bebe que nasce, no último respiro de quem morre» (G. Vannucci).
E depois, ainda, nova surpresa: a confiança imensa do Senhor, que confia precisamente a elas, tão desorientadas, o grande anúncio: «Ide e dizei», com os dois imperativos próprios da missão. De discípulas sem palavras a missionárias dos discípulos sem coragem. «Preceder-vos-ei na Galileia».
E surge um Deus migrante, que ama os espaços abertos, que abre caminhos, atravessa muros e escancara portas: uma semente de fogo que abre caminhos na História. Precede-vos: avança à cabeça da longa caravana da humanidade encaminhada rumo à vida; caminha à frente, a abrir a imensa migração rumo à terra prometida. À frente, a receber o vento no rosto, a morte, e depois o sol da primeira manhã, sem nunca se deter.
O Evangelho da Páscoa narra-nos que na vida está oculto um segredo que Cristo veio sussurrar-nos amorosamente ao ouvido. O segredo é este: há um movimento de amor dentro da vida que não permite que ela fique parada, que a remete em movimento após cada morte, que a relança depois de cada xeque, que por cada ser humano que mata há centenas que cuidam das feridas, e mil cerejeiras que continuam obstinadamente a florir.
Um movimento de amor que nunca tem fim, que nenhuma violência poderá alguma vez deter, um fluxo vital dentro do qual está cada coisa que vive, e que revela o nome último de Deus: Ressurreição.
[Ermes Ronchi | In Avvenire]