Se amas, a tua vida será sempre conseguida
Os poucos versículos do Evangelho de domingo (João 15, 9-17) circulam em torno ao mágico vocabulário dos enamorados: amor, amado, amai-vos, alegria. «Toda a lei começa com um “és amado” e termina com um “amarás”. Quem se abstrai disto, ama o contrário da vida» (P. Beauchamp).
Questão que preenche ou esvazia a vida: isto vos digo para que a minha alegria esteja em vós e a vossa alegria seja plena. O amor é para levar a sério, afeta o nosso bem-estar, a nossa alegria. Aliás, cada um de nós está a jogar, conscientemente ou não, a partida da própria eternidade.
Eu, porém, tenho dificuldade em segui-lo: o amor é sempre pouco, está sempre em risco, é sempre frágil. E também me é difícil compreender em que consiste o verdadeiro amor, nele tudo se mistura: paixão, ternura, emoções, lágrimas, medos, sorrisos, sonhos e compromisso concreto.
O amor é sempre maravilhosamente complicado, e sempre imperfeito, isto é, incompleto. Sempre artesanal, e como todo o trabalho artesanal pede mãos, tempo, cuidado, regras: se observardes os meus mandamentos, permanecereis no meu amor. Mas como é que Tu, Senhor, enclausuras dentro dos mandamentos a única coisa que não se pode mandar?
Desencorajo-me: o mandamento é regra, constrangimento, sanção. Uma trela que me puxa. O amor, pelo contrário, é liberdade, criatividade, divina loucura… Mas Jesus, o curador do desamor, oferece a sua pedagogia segura em dois tempos.
Primeiro: amai-vos uns aos outros. Não simplesmente: amai-vos. Mas: uns aos outros. Não se ama a humanidade em geral ou em teoria. Amam-se as pessoas uma a uma; ama-se este homem, esta mulher, esta criança, o pobre aqui ao lado, face a face, olhos nos olhos.
Segundo: amai-vos como Eu vos amei. Não diz “tanto como Eu”, porque nunca lá chegaríamos, eu pelo menos não; mas «como Eu», com o meu estilo, com a minha maneira única: Ele que lava os pés aos grandes e abraça os pequenos; que vê alguém sofrer e experimenta um aperto no estômago; Ele que se comove e toca a carne, a pele, os olhos; que não manda ninguém embora; que nos obriga a tornarmo-nos grandes e acaricia e penteia as nossas asas para que pensemos em grande e voemos longe.
Quem te ama verdadeiramente? Decerto não quem te enche de palavras doces e de presentes. O amor verdadeiro é aquele que te impele, insta, obriga a tornares-te tanto, infinitamente tanto, a tornares-te o melhor daquilo que podes tornar-te. Por isso aos filhos não servem coisas, mas pais e mães que dão horizontes e grandes asas, que os façam tornar o melhor daquilo que podem tornar-se. Mesmo quando parece que se esquecem de nós.
Palavra do Evangelho: se amas, não erras. Se amas, não falharás a vida. Se amas, a tua vida será sempre um sucesso.
[Ermes Ronchi | In Avvenire]