O bom e o mau pastor
Na Igreja o ministério mais árduo e mais difícil é o de presidir à unidade, o de ser servo e instrumento da comunhão, que é o primeiro elemento distintivo da comunidade cristã. Estar em comunhão, participar na “koinonia” entre irmãos e irmãs é também a condição para se ser discípulo de Jesus e seu sinal na companhia dos seres humanos.
Foi por isto que Jesus confiou a alguns discípulos a missão de se tornarem pastores, guias, vigilantes, com a tarega de fazer e renovar a unidade, de reavivar e confirmar a comunhão, uma comunhão plural, não monolítica, que acolhe a diversidade, mas vive-a na única fé, na única esperança e na caridade. Pedro até recebeu uma promessa particular de Jesus que não o isentava do pecado mas convidava-o a confirmar os irmãos e a pastorear ovelhas e cordeiros.
Em cada comunidade, igreja, paróquia, mosteiro há quem, munido do dom da firmeza e do discernimento (estes são os carismas absolutamente necessários), exerce este serviço: procurando sempre incluir, nunca excluir, buscando sempre perdoar e dar a primazia à misericórdia, nunca julgar e condenar, colocando-se sobretudo à escuta de todos, não de uma parte ou de alguns, para ser verdadeiramente guia para cada pessoa. Quem preside à unidade ou procura e constrói a unidade de todos e de todas, ou divide, alimenta oposições e destrói a própria comunidade.
É muito trabalhoso este serviço, e sobretudo hoje os superiores não podem recorrer à imposição, apelando à obediência dos súbditos, porque a consciência humana e cristã pede-nos para caminhar juntos, todos munidos de uma subjetividade capaz de se exprimir e assumir a responsabilidade exigida a um batizado, que é sempre dotado do dom do Espírito Santo.
Por isso, é deplorável que no espaço eclesial haja “os superiores”, ou seja, que haja pastores que permaneçam longe do rebanho, que não conhecem nem o exercício nem o serviço da unidade. Jesus, na esteira dos profetas, proferiu em relação a eles palavras duríssimas, e, significativamente, descreveu os maus pastores como narcisistas e autorreferenciais: são aqueles que fingem escutar, mas na realidade só se escutam a si próprios e aos seus fidelíssimos.
Jesus, porém, revelou também quem é o pastor belo e bom, descrevendo-se a si próprio e ao seu viver numa parábola que nos entregou, a parábola do bom pastor, texto que nos permite narrar legitimamente a parábola do contrário, do mau pastor.
Um pastor tinha um rebanho de cem ovelhas, perdeu uma e disse para si: «O meu senhor é duro e severo; se para ir procurar a ovelha perdida perco as outras noventa e nove, então estou perdido, e o meu senhor expulsar-me-á». No dia seguinte, constatou que faltava uma outra ovelha, mas não ousou deixar o rebanho para ir procurá-la.
Passado algum tempo, o pastor deu-se conta de que tinha perdido muitas ovelhas, que tinham ido embora por várias razões: não se sentiam protegidas pelo pastor, não se sentiam reconhecidas nem escutadas; outras tinham adoecido e não aguentavam o passo do rebanho.
Então o pastor foi ter com o senhor e disse-lhe: «Perdoa ao teu servo, as ovelhas perderam-se, mas eu trago-te esta, que nunca se afastou de mim». E o senhor: «Servo malvado! Dei-te a tarefa de reencontrar a ovelha perdida e tu perdeste todo o rebanho. Não serás mais um dos meus pastores». E expulsou-o.
Eis o que acontece muitas vezes nas nossas igrejas e comunidades quando os pastores gostam mais dos justos do que dos pecadores, dos sãos mais do que dos doentes, e permanecem incapazes de se sentar à mesa dos pecadores e de estar entre os doentes, ignorando que eles, pastores, são também doentes.
[Enzo Bianchi | In Il blog di Enzo Bianchi]