A vulnerável, preciosa e incompreendida idade dos sonhos
Há uma idade da vida particularmente vulnerável e preciosa, talvez não suficientemente compreendida e considerada pelos adultos-educadores, mais atentos à primeira infância com os seus desafios e à plena adolescência com as suas turbulências: trata-se da idade compreendida entre os 10-11 anos e os 14-15 anos, que precede, acompanha e segue as transformações físicas e psíquicas da puberdade.
É uma idade do meio que se caracteriza, em certo sentido, pelo seu “não-ser”: uma idade em que já não se é criança, mas ao mesmo tempo ainda não se é adolescente, e tudo gira precisamente em torno à incerteza e à fragilidade deste já-não-ser e ainda-não-ser.
É o momento da vida em que o corpo da criança começa a transformar-se no corpo do adulto que será; a idade em que a sexualidade começa a tornar-se uma questão pessoal e as curiosidades genéricas se transformam numa pergunta que diz respeito a si próprio, porque a tarefa evolutiva específica desta fase consiste precisamente no trabalho psicológico e mental em torno ao tema da pertença física, emotiva, psicológica e social ao sexo da pessoa.
Trata-se de um período muito delicado, feito de entusiasmos e dúvidas, melancolias e temores, impulsos e incertezas. Uma idade subvalorizada porque considerada “de passagem”, em que os adultos deixam demasiadas vezes os filhos a sós, porque leem a sua crescente impaciência como a procura cada vez maior de uma legítima autonomia.
Nesta idade a menina sente-se muitas vezes só, porque ainda não está pronta para mergulhar na aventura da adolescência, mas também não consegue regressar à serenidade inconsciente da infância
Gosto de chamar à pré-adolescência a “idade dos sonhos”, porque, se for orientada de maneira ajustada pelos adultos, é a que permitirá à criança lançar sem perigo o olhar para além da infância, de pressentir o crescimento, de experimentar o emergir de emoções novas, sem, todavia, as traduzir em experiências que resultariam para ela excessivamente precoces e perigosas.
É uma idade para fantasiar em torno às emoções inéditas que o corpo sugere, para imaginar aquilo que poderá ser e aquilo que será, aprendendo aos poucos a dar à realidade, sobretudo à do sexo, do corpo e do amor, os seus verdadeiros contornos.
São sobretudo as meninas que têm necessidade que este seja um tempo suspenso: crianças às voltas com o acontecimento forte e transformador de uma menarca cada vez mais precoce, que ativa nelas a perceção de uma perda imprevista da infância e sentimentos inevitáveis de melancolia e solidão. Nesta idade a menina sente-se muitas vezes só, porque ainda não está pronta para mergulhar na aventura da adolescência, mas também não consegue regressar à serenidade inconsciente da infância.
Nesta incerteza, há meninas que resistem ao crescimento e procuram voltar às atividades que até há muito pouco tempo lhes davam muito prazer, tentando, desta maneira, retardar, negando-a, a realidade da mudança. Outras procuram escapar ao mal-estar lançando-se bruscamente no mundo “dos grandes”, com comportamentos e atitudes que emulam os dos adolescentes, sem que isso corresponda ao seu real nível de desenvolvimento.
Em ambos os casos, todas precisam da presença concreta do mundo adulto: têm necessidade absoluta de adultos capazes de reconhecer a preciosidade e a beleza, de as velar e de as proteger, para lhes garantir aquela “penumbra psicológica” que precisam para um crescimento sereno.
[Mariolina Ceriotti Migliarese | Neuropsiquiatra infantil, psicoterapeuta | In Avvenire]