Quando as crianças nos ensinam a salvação
Salvar as crianças. Em certos dias belíssimos de maio, quando o sol ilumina sem aquecer demasiadamente e o céu está límpido, o ar é fresco e até numa grande cidade poluída tem-se por um momento a ilusão de respirar melhor porque se respira com os olhos toda aquela luz, veem-se desfilar com maior frequência, de manhãzinha cedo, longos cortejos de crianças da escola primária guiados pelo seu mestre. Não consigo não escancarar a porta-janela do terraço para me deleitar com o espetáculo da sua festiva inocência.
Os professores disseram-lhes para agarrarem as mãos dois a dois, permanecendo assim unidos para não se dispersarem. E eles obedecem sem esforço e sem se agitarem, com uma natural calma obediente, mirando à sua volta como que encantados ou lançando de vez em quando os seus olhares (também a mim, que do alto da minha janela os saúdo levantando apenas um braço, sem exagerar, só com um aceno sorridente).
Um amigo meu que foi professor primário durante algumas décadas (e ele gosta muito da palavra "primário", orgulha-se de ter sido professor daquilo que é primário, isto é, necessário, mais importante, a não negligenciar e desperdiçar) disse-me já há alguns anos que as crianças hoje, infelizmente, sobretudo do sexo masculino, deixam de ser crianças cada vez mais rapidamente.
Perdem primeiro a infância, já no terceiro ano, transformando-se precocemente em adolescentes, brutalizando os seus comportamentos, perdendo aquela doçura um pouco perdida mas atenta a tudo, aquela disponibilidade para o maravilhamento, aquela capacidade de se deterem de olhos escancarados diante das coisas, de uma só coisa, como que a estudando, ou melhor, compreendendo por identificação a presença, real e plena de promessas.
Diante destas crianças franzinas de seis anos que saem da escola numa luminosa manhã de maio, segurando-se pelas mãos em longas e compostas filas, e vão descobrir a existência do mundo sem o controle dos pais, vem-me à ideia de que ainda não são deste mundo: ainda não as adestrámos e contaminámos. Sim, é belo ensinar-lhes isto e aquilo. Ainda mais belo é contemplar a sua natural pureza e aprender delas como também nós fomos, uma vez, há muito tempo, e deixámos de ser. Aprender o que perdemos, tantas coisas de que devemos fazer a conta. Salvamo-nos a nós mesmos, salvando-as.
[© Alfonso Berardinelli | In "Avvenire"]