Decálogo para a transmissão de missas na televisão e internet

Pastoral da Comunicação 1 abril 2020  •  Tempo de Leitura: 10

A proliferação das transmissões das missas pela internet, a partir do momento em que foi suspensa a sua celebração comunitária, motivou a Conferência Episcopal Italiana a publicar uma nota em que recorda algumas regras e propõe modalidades de as observar e as tornar mais evidentes, sobretudo para quem está a dar os primeiros passos na difusão “online” das liturgias.

 

“Celebrar em direto pela TV ou em ‘streaming’”


Departamento Nacional para as Comunicações Sociais da Conferência Episcopal Italiana

 

É-nos dado viver um tempo de provação, um tempo em que nos encontramos fisicamente divididos dos fiéis para evitar a difusão de um vírus que não faz distinção, tão-pouco diante do sagrado.

 

Sabemos com quanta generosidade, no respeito das normas sanitárias, sacerdotes, religiosos e religiosas, diáconos, procuram estar próximos das pessoas em necessidade, exprimindo nas formas mais criativas uma proximidade apostólica que se sente ainda mais necessária.

 

Instamos a que nunca se menospreze a prudência, porque a transmissão do Covid-19 acontece por contacto, e, se não se respeitam escrupulosamente as regras de básicas de atenção, o risco é de se transformarem em presenças danosas, sobretudo para os doentes idosos ou com graves patologias.

 

Todavia, a tecnologia vem em nosso auxílio, e é-nos possível chegar a muitos, se não a todos, através dos vários canais de média, que vão dos clássicos, como rádio e televisão, aos sociais (Facebook, WhatsApp, Youtube, Twitter, Instagram, TikTok…).

 

Porém, não se pode esquecer que a Eucaristia é um grande dom, o mais precioso, e dele e da sua celebração é imperioso cuidarmos. As sugestões que se seguem nascem precisamente desta exigência.

 

Indicações práticas

1. A celebração eucarística deve decorrer em lugar sagrado, colocando-se obrigatória atenção no cuidado e correto desenvolvimento das diferentes sequências rituais. Não é respeitoso do Mistério celebrado, nunca e tão-pouco em situações como esta, sobretudo para transmissões pela televisão e redes sociais, entregar-se a celebrações improvisadas em qualquer lugar (fora do espaço litúrgico) e pouco cuidadas.

 

2. A preparação da homilia e da oração universal, a par da Palavra proclamada, comentada e escutada, pode suscitar e favorecer a oração comum e a partilha.

 

3. É oportuno proclamar a Palavra de Deus de maneira não rápida, mas lenta e meditada, dando o espaço oportuno e necessário aos silêncios, que não devem ser demasiado longos, mas também não insignificantes.

 

4. Todas as formas rituais, verbais e não verbais, pedem preparação e dignidade no seu decurso: da proclamação dos textos e das orações ao silêncio, da dignidade dos espaços litúrgicos às vestes, da pertinência dos cânticos ao uso dos diversos e apropriados lugares litúrgicos (a sede, para os ritos de introdução e de despedida; o ambão, e não estantes improvisadas, para a liturgia da Palavra; o altar para a celebração eucarística).

 

5. As palavras e os gestos do rito têm uma eloquência e uma eficácia pelas quais as “formas” rituais são capazes de “informar”, isto é, dar “forma” cristã à vida. Porque a forma nunca é só formalidade, mas é ao mesmo tempo conteúdo, faz parte do mesmo Mistério.
Também os fiéis devem ser formados para uma “presença”, ainda que mediada pelos meios de comunicação, que não exclua o envolvimento do corpo, através daquelas formas que a participação física na celebração pede para exprimir e viver, como forma de consciente, plena, ativa e frutuosa participação, nunca separável e separada daquela interior e espiritual.

 

6. É necessário salvaguardar a transmissão “em direto” (ao vivo) da celebração. Isto deverá alertar-nos para a proliferação de celebrações gravadas. Permanece válido o convite para as pessoas se ligarem “em direto”, e esta simultaneidade pretende e pode favorecer a “participação”, que é muito mais do que um simples “seguir” a missa, e menos ainda “ver” ou “ouvir” a missa.

 

7. No que diz respeito às medidas de prevenção, em caso de concelebração é aconselhável um número realmente reduzido de ministros concelebrantes (máximo de cinco), e é necessário que mantenham sempre a disposta distância de segurança, e observem a forma da comunhão no cálice por intinção.

 

Notas para a realização

8. É oportuno reconstruir um olhar que abranja a assembleia, decalcando, portanto, o visual amplo. O enquadramento, sendo geralmente feito por uma câmara – em muitos casos a do telemóvel –, não filme constantemente em primeiro plano, mas abra-se a um campo total, onde se veja o altar, ambão, celebrante. Na prática, o equipamento deve ser posicionado de tal maneira que crie a dimensão da assembleia, para conduzir o fiel a uma maior participação.

 

9. O áudio, do ponto de vista técnico, deve ser igualmente objeto de cuidado: se possível, deve ser transmitido em direto; isto, com efeito, ajudará a preencher o senso de distância que necessariamente se cria.

 

10. Uma outra atenção deve ser dada ao cuidado relativo ao decoro da celebração litúrgica. Por exemplo, usem-se os livros litúrgicos (missal e lecionário), e não subsídios; o altar e o ambão devem estar bem iluminados; junto do altar não faltem as velas; junto ao ambão, a partir da Páscoa, seja colocado o círio pascal (de cera), e prevejam-se também composições florais sempre sóbrias, e nunca excessivas.

 

Breve glossário social

 

Partilha
Nas redes sociais o termo é usado para indicar a prática de partilhar conteúdos de texto, imagens, vídeo e áudio, e fazê-los interagir entre eles e entre os utilizadores. O verbo “partilhar” pode encorajar uma postura adaptada à celebração: corpo, oração, respostas da assembleia, interioridade… Assiste-se a uma celebração, e não a um “chat”! Esta partilha, vale a pena recordá-lo, “espera por um uma comunidade eucarística”, que se dá com a participação real, corpórea, na vida sacramental.

 

“Engagement”
É o grau de envolvimento que um determinado conteúdo suscita. Os indicadores de “engagment” mais visíveis no Facebook são os “Gosto”, os “Comentários” e as “Partilhas”. Esta prática social combina-se pouco com a transmissão da celebração eucarística. Oferece, todavia, a possibilidade para uma reflexão sobre a atitude apropriada do celebrante: não se ceda a virtuosismos inúteis ou à busca do consenso. Reflita-se, antes, na importância de levar proximidade, familiaridade, e de responder a uma exigência de comunidade num momento de sofrimento para todos.

 

“Hashtag”
Indica a etiqueta que é associada a um conteúdo relativo a determinado tema, setor, palavra ou acontecimento. Há um duplo registo, que o termo ajuda a focalizar, e para o qual é preciso dar atenção: a celebração eucarística e a comunidade. Não são absolutamente etiquetas sociais, mas exigências primárias que indicam uma pertença radical e, ao mesmo tempo, radicada na fé. A Eucaristia é um grande dom, o mais precioso, e dela e da sua celebração é imperioso cuidar.

 

“Target”
São as pessoas potencialmente interessadas no que se quer oferecer, e que, portanto, se desejam intercetar. Relendo o termo em chave eclesial, é a comunidade que vive a dimensão relacional. A Eucaristia e a Palavra são o alimento necessário para se aproximar àquele “mais” dado pela esperança cristã. O fio da fé – vale para cada momento – está sempre ligado à esperança e à caridade, que age de maneira silenciosa, mas operativa.

 

[Fonte: Ufficio Nazionale per le Comunicazioni Sociali della Conferenza Episcopale Italiana]

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