TikTok e evangelização: Oportunidades, riscos e desafios
O mais emblemático entre eles talvez seja Fiel Pareja, um jovem padre filipino, que se pode vangloriar dos seus 1,7 milhões de fãs. Há mais de um ano, quase todas as noites, da sua casa paroquial a norte de Manila, Pareja passa horas e horas a gravar breves vídeos, rezando, dançando e cantando os grandes sucessos da música pop cristã. Todos os conteúdos são depois publicados no seu perfil no TikTok, esperando assim chegar a novos fiéis através daquela que se tornou a rede social preferida da denominada geração z, nascida a partir de 1995.
Os jovens, de resto, são os maiores frequentadores das redes sociais, e em todo o mundo contam-se centenas de milhões de utilizadores que, através desta aplicação, veem e criam vídeos ou clipes musicais de 15 ou 60 segundos no máximo, modificando eventualmente a velocidade de reprodução, juntando emojis em cascata, filtros e efeitos especiais. De facto, em cada canto do mundo, os padres que adotaram o TikTok obtêm correspondências importantes, sobretudo depois de o Covid-19 ter imposto várias e severas limitações à vida “em presença” das comunidades cristãs.
«O nosso objetivo é fornecer conteúdos pertinentes, criativos e “não enfadonhos”, explica o P. Pareja, ordenado pouco antes do início da pandemia, que obrigou as autoridades do arquipélago filipino a decretar, durante vários meses, medidas de isolamento. De camisola ou de casula, o sacerdote recita versículos da Bíblia, propõe orações em inglês ou tagalog, a língua nacional filipina. Cada um dos seus quase 700 vídeos recebeu dezenas de milhares de “gostos”, que lhe valeram o cognome de “padre TikTok”.
«Estes padres dirigem-se a um público muito distante da Igreja, pessoas curiosas mas desprovidas de qualquer cultura religiosa ou não praticantes. É preciso reconhecer, em todo o caso, que estes vídeos suscitam centenas de comentários, alguns dos quais são muito válidos»
Do outro lado do oceano Pacífico, na cidade mexicana de Puebla, Ezequiel Padilla adquiriu grande sucesso no TikTok enquanto “padre Cheke”. Da sua paróquia o sacerdote latino-americano mantém-se constantemente em contacto com os fiéis. O seu perfil regista quase 700 mil seguidores e 3,1 milhões de “gostos”. «A minha curiosidade por esta rede social começou nos primeiros meses da pandemia», explica. Nesse tempo a quarentena não era obrigatória no país, mas ele, aos 47 anos, por «responsabilidade», decidiu limitar os contactos diretos com as pessoas. «Ficando em casa não conseguia encontrar muita atividade, e assim comecei a ver os vídeos. Depois decidi-me a descarregar a aplicação e a experimentar eu mesmo a plataforma.»
O TikTok foi escolhido também por alguns padres nos países de antiga evangelização. Em França, por exemplo, o perfil do P. Matthieu Jasseron, da diocese de Sens-Auxerre, chega aos 400 mil inscritos. Com humor, o sacerdote responde às perguntas dos jovens utilizadores, muitas vezes afastados da Igreja. Perguntas sobre a fé – como rezar, como ser batizado, o que é o Paraíso – mas também questões eclesiais, sobre temáticas como o sacerdócio feminino ou o celibato. Um dos primeiros padres franceses a chegar ao continente TikTok foi Vincent Cardot, em outubro de 2019, graças aos jovens da sua paróquia. Ao usar a rede social, o sacerdote de diocese de Langres teve a impressão de descobrir um novo mundo, onde a fé está totalmente ausente. «A substância não era realmente edificante, mas disse a mim próprio que se não estivermos lá para estarmos próximos destes jovens, outros ocuparão esse lugar, e não necessariamente por bons motivos.»
A pertinência dos conteúdos representa, com efeito, um dos principais desafios. «O problema é que o TikTOk não dá espaço à argumentação. O objetivo é atingir, impressionar emotivamente o espetador», comenta o P. Alberto Ravagnani, jovem sacerdote italiano que em poucos meses se tornou um fenómeno mediático com os seus vídeos no YouTube. «Se queres passar uma mensagem é muito difícil porque é preciso primeiro capturar a atenção do teu espetador; isto diferencia o TikTok de outras redes sociais e é, em certo sentido, perigoso porque há o risco do desequilíbrio em favor da forma em detrimento do conteúdo.»
Os sacerdotes são por isso chamados não tanto a procurar o sucesso mas a dar precedência à mensagem que querem transmitir. «O TikTok põe o acento no rosto, no corpo. Por trás desta coreografia pessoal é preciso aprofundar como “colocar em cena” o Evangelho», observa o P. Vincent Breynaert, diretor do departamento para a evangelização dos jovens da Conferência Episcopal Francesa. «Estes padres dirigem-se a um público muito distante da Igreja, pessoas curiosas mas desprovidas de qualquer cultura religiosa ou não praticantes. É preciso reconhecer, em todo o caso, que estes vídeos suscitam centenas de comentários, alguns dos quais são muito válidos e necessitam de uma resposta unificada, partilhada por todos nós.» Por este motivo, explica, «decidiu-se criar um grupo de diálogo composto por alguns “padres TikTok” e por responsáveis da Conferência Episcopal, com o propósito de fazer compreender ao público que por trás de cada sacerdote presente nas redes sociais há um “nós”, para testemunhar o Evangelho».
[Charles de Pechpeyrou |In L'Osservatore Romano]