Maria e o ateu

Mariologia 2 julho 2017  •  Tempo de Leitura: 2

«Cheguei até ao ateísmo intelectual, até imaginar um mundo sem Deus. No entanto vejo que conservei sempre uma secreta confiança em Maria. Nos momentos de angústia sai-me espontaneamente do peito esta exclamação: «Mãe de misericórdia, ajuda-me!».

 

Este canto à mãe de Cristo não foi extraído da infindável literatura mariana mas de um passo autobiográfico deveras surpreendente de um famoso escritor e filósofo espanhol Miguel de Unamuno (1864-1936), personagem de experiência muito atormentada, oscilante entre o ateísmo e a mística.

 

O seu testemunho é muitas vezes confirmado de modo inesperado também por outras figuras da cultura que procuraram eliminar toda a marca religiosa da sua alma, extirpando-lhe sobretudo as raízes da infância, quando a espiritualidade era quase espontânea.

 

Com efeito, por vezes muitas destas pessoas, como tantos outros personagens mais ou menos conhecidos, confessam ter conservado uma gota de confiança religiosa sobretudo - nos momentos mais obscuros - precisamente através da invocação a Maria.

 

É talvez um modo para não incomodar Deus, presença mais difícil e exigente, mas é uma última e pequena via para a fé.

 

Também aos crentes, todavia, gostaria de dizer - sempre no seguimento das palavras de Unamuno - que não se deve hesitar em conservar um fundo de confiança "infantil": não esqueçamos que a própria Bíblia representa a atitude emblemática do crente na «criança saciada ao colo da mãe» (Salmo 131).

 

É verdade que a fé não deve ser só sentimento, mas é também serenidade, doçura, paz e quietude interior.

 

[Card. Gianfranco Ravasi  |Fonte: "Avvenire"]

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