Conto: «A aldeia do sorriso»

Conto 15 fevereiro 2021  •  Tempo de Leitura: 5

Era uma vez uma menina que tinha tudo e mais alguma coisa, mas não era feliz. Os pais eram muito ricos e nada faltava à filha, mas não conseguiam arrancar-lhe um simples sorriso e isso entristecia-os imenso. Já tinham contratado palhaços, comediantes, músicos, bailarinos e atores para irem a casa fazer espetáculos e nunca ninguém conseguira fazê-la rir. A menina pouco falava e não sabia sorrir.

 

Um dia, os pais decidiram levá-la a uma aldeia perdida nas montanhas que tinha fama de ser a terra mais feliz do mundo e onde as pessoas, apesar das adversidades, estavam sempre a sorrir. Não a perdendo de vista, disseram-lhe que fosse para onde quisesse, fizesse o que bem entendesse e conversasse com quem lhe aprouvesse.

 

A menina caminhou ao acaso pelas ruelas da aldeia e logo viu uma velhinha na fonte à espera de que o cântaro se enchesse de água. Como lhe chamou a atenção de que não parava de sorrir, perguntou-lhe porque o fazia e ela respondeu serenamente:

 

- Olha, nem sempre o sorriso que trago no rosto reflete a minha vida e se os meus olhos mostrassem a minha alma não haveria quem não chorasse comigo ao ver-me sorrir. Um sorriso não tira o sofrimento, mas alivia a dor. Ainda que haja noite no coração, vale a pena sorrir ou rir para que continue a haver estrelas na escuridão. Posso não ter um centavo no bolso, mas se tiver um sorriso no rosto isso vale mais que todo o dinheiro do mundo. Acredito que o meu sorriso pode mudar o mundo de alguém e não posso deixar que o mundo mude o meu sorriso. Sorrir é a melhor forma de aproveitar cada momento que Deus me dá. Sorrir e estar bem disposto sempre será o melhor remédio.

 

A menina, agradeceu as palavras sábias da velhinha e estava ainda a refletir na beleza da mensagem que ela partilhara consigo, quando viu um pobre agricultor a lavrar a sua terra. Quando ele olhou para si, logo parou, levantou-lhe o braço e sorriu. A menina imediatamente o questionou sobre as razões por que sorria de forma tão espontânea e sem que a conhecesse de lugar algum. Após retirar o chapéu, ele disse-lhe:

 

- Amiguinha, um sorriso é uma linguagem de acolhimento universal. O sorriso é a menor distância entre duas pessoas e é a chave que abre o coração de todas pessoas. Um sorriso é uma arma poderosa pois é a melhor maneira de quebrar o gelo nas relações humanas. O sorriso enriquece quem o recebe sem empobrecer quem o oferece e uma das melhores coisas da vida é provocar um sorriso a alguém. É mais fácil obter o que se deseja com um sorriso do que com uma arma. Olha, acredita que um dia sem sorrir ou sem rir é um dia desperdiçado e que ter sentido de humor dá muito jeito.

 

A menina estava sem palavras diante da sabedoria do pobre homem, cuja única universidade que frequentara fora a sua própria experiência de vida e agradeceu-lhe o tempo e os conselhos. Mais à frente, junto ao riacho que atravessava a aldeia, viu um rapaz numa cadeira de rodas que, como todos os outros habitantes, logo lhe sorriu. Então, foi ter com ele e perguntou-lhe se tinha motivos para sorrir. Ele respondeu:

 

- Pequenina, o sorriso é a curva mais bonita do corpo de qualquer pessoa e ninguém está completamente vestido sem um. Olha, sorrir é o meu exercício favorito, mesmo que seja um sorriso triste, pois não há tristeza maior que não querer ou não saber sorrir. Um sorriso pode durar um segundo, mas a sua memória pode durar uma vida inteira. E pensa nisto: sorrir, mesmo que seja para um desconhecido, pode ser o único raio de sol e a única manifestação de amor que alguém recebe durante um dia inteiro. Se alguém está tão cansado e triste que não possa dar-te um sorriso, oferece-lhe o teu.

 

A menina não sabia o que dizer, agradeceu as lindas palavras do jovem e, como já se fazia tarde, foi a correr ter com os pais à praça da aldeia, como combinado. No entanto, pelo caminho, chocou com um rapazinho e, como caíram os dois ao chão, ela estendeu-lhe as mãos para o levantar e sorriu. Surpreendentemente, os pais da menina viram-na sorrir pela primeira vez e, emocionados, deram graças a Deus. Os dois tornaram-se grandes amigos e os sorrisos e as gargalhadas nunca mais faltaram na casa da menina. Aquele dia na aldeia do sorriso mudou para sempre a sua vida. 

Paulo Costa

Conto

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