Conto: «O segredo da paciência»

Conto 15 janeiro 2024  •  Tempo de Leitura: 5

Era uma vez um homem que decidiu dedicar-se à pesca. Experimentara numerosos empregos, mas depressa se cansava dos patrões e se fartava dos colegas. No mar ou no rio, julgava que teria a calma suficiente para trabalhar sem a pressão e as chatices do dia a dia. No primeiro dia, por sorte de principiante ou não, apanhou vários peixes com a cana de pesca que comprara, mas nos dias que se seguiram pouco ou nada conseguiu, o que o aborreceu imenso.

 

Ao desabafar com o seu melhor amigo que era agricultor, deu-lhe conta do seu desagrado, pois desanimava frequentemente com tudo o que fazia. Então, o amigo disse-lhe:

 

- Olha, como sabes, eu gosto muito da terra e a verdade é que a natureza ensina as pessoas a serem pacientes. A paciência e o tempo oferecem melhores resultados do que a força e a raiva. Ser paciente e ter calma são virtudes muito importantes, muitas coisas boas podem acontecer se soubermos esperar e certas coisas levam tempo a serem compreendidas e realizadas. A paciência e a perseverança conseguem fazer desaparecer as dificuldades e contornar os obstáculos e são a melhor arma para suportar e aceitar aquilo que não depende de nós. Só alcançaremos a sabedoria e o sucesso com muita paciência. Ela tem a capacidade de facilitar a resolução de qualquer problema e, já sabes que na pesca é essencial ser muito paciente.

 

Nos dias seguintes, o homem tentou esperar com mais paciência que o peixe picasse. Levou um livro para ler, mas a ansiedade era tanta que olhava mais para o fio de pesca do que para as páginas do livro. Então, o amigo voltou a falar-lhe da importância da paciência para conseguir tudo na vida e disse-lhe:

 

- Tens de continuar a esforçar-te por ser paciente. Se eu não tivesse paciência nos meus trabalhos agrícolas, nada conseguiria. Ela pode ser a distância temporal a percorrer entre a sementeira e a colheita e, muitas vezes, perdê-la significa desistir do sucesso e da vitória. Olha, pode custar e demorar a transformar-nos nas pessoas que queremos ser, mas, com paciência e determinação, podemos ir além dos limites que nós mesmos nos colocámos. Por vezes, se aguentarmos o pior com paciência, conseguiremos alcançar o melhor que nem imaginávamos. Temos de ter paciência connosco mesmos, sobretudo para aceitar aquilo que não podemos mudar. Se o peixe não pica, há que ser compreensivo e esperar por momentos melhores.

 

O homem lá foi, determinado a tentar ser mais paciente e decidiu passar a levar música para relaxar. A verdade é que pouco ou nada mudou e a pescaria continuou a ser diminuta, até porque depressa se enervava porque estava muito sol, havia muito vento, a chuva era fria e chata ou os problemas com a mulher e os filhos não o deixavam concentrar-se. Então, o amigo voltou a falar-lhe pacientemente e disse:

 

- Com amor e paciência, tudo pode ser possível. Como já te disse, deveríamos adotar o ritmo da natureza pois o seu segredo é a paciência. O talento e a genialidade não são outra coisa senão a arte da paciência. O que vale a pena conquistar, vale a pena saber esperar. A paciência exige sacrifícios temporais mas os seus benefícios são duradouros e a dor pode transformar-se em alegria. Há que dar tempo ao tempo pois tudo leva o seu tempo e ser pescador exige, como já estás farto de saber, muita paciência.

 

O homem, cansado de tantos conselhos, exaltou-se com o amigo pois achava que ele não o compreendia e o considerava irresponsável e pouco apto para a profissão de pescador. Ficara impaciente com tanto apelo à paciência. Disse-lhe que estava farto dos seus sermões e pediu-lhe que o deixasse em paz.

 

Determinado a provar que até conseguia se quisesse, decidiu pescar com toda a paciência de que se sentia capaz. Após dois dias e duas noites sem dormir, na madrugada do terceiro dia, conseguiu apanhar o maior peixe jamais visto na região. O homem ficou muito feliz e logo foi partilhar a grande notícia com o seu maior amigo. Aprendera, finalmente, a virtude que lhe faltava.

Paulo Costa

Conto

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