Conto: «O desafio da responsabilidade»

Conto 15 dezembro 2024  •  Tempo de Leitura: 5

Era uma vez um rapaz que era muito preguiçoso, não levava a sério as suas responsabilidades escolares nem se comprometia com nada que os pais lhe pedissem em casa. Na escola, adorava fazer partidas aos amigos, fazia asneiras a toda a hora e nunca assumia nenhuma das suas travessuras. Um dia, a professora disse-lhe:

 

- Olha, muitas pessoas não querem realmente a liberdade, pois ser livre implica e exige responsabilidade e a maior parte tem medo e não quer ser responsável. A cada instante, temos diante de nós a liberdade e a responsabilidade de escolher para onde queremos ir e não podemos esquecer que na vida devemos responder pelas nossas ações, que tudo tem um preço e que somos nós que temos que assumir com as consequências das nossas decisões. Discernir as nossas opções é muito importante e não devemos deixar de fazer nada que queiramos muito, mas sem ignorar que temos de ter maturidade para arcar com os efeitos colaterais das nossas atitudes. Tens de pensar muito bem na vida que queres construir, pois sem responsabilidade nunca serás ninguém.

 

Apesar do rapaz aparentar interesse e atenção, a professora sabia perfeitamente que aquilo que dissera entrara por um ouvido e saíra logo pelo outro. Como ela sabia que o pai dele era carpinteiro e, por vezes, ia ajudá-lo, lembrou-se de lhe pedir que construísse sozinho o mais bonito barco das redondezas para que a sua filha pudesse navegar no lago junto ao bosque, prometendo-lhe o dinheiro que fosse necessário.

 

O rapaz disse logo que não era capaz, que remar era aborrecido e que era melhor comprar um barco novo. Contudo, lá se fez ao trabalho, notoriamente contrariado. Comprou madeira e tinta de fraca qualidade, de forma a poder ficar com boa parte do dinheiro recebido e fez o barco à pressa, sem rigor, sem gosto e com evidentes defeitos que o levariam facilmente ao fundo. Quando o rapaz entregou a encomenda, a professora ficou pesarosa e confessou-lhe que o barco, na verdade, não era para a filha, mas para ele próprio. O rapaz ficou desgostoso e angustiado, arranjando mil e uma desculpas para o fracasso do trabalho e argumentando que tudo teria sido diferente se soubesse que o barco seria para si próprio. Então a professora disse-lhe:

 

- Quis dar-te um presente para te dizer que acredito em ti e nas tuas capacidades e tu desiludiste-me. Justificar as nossas asneiras e falhanços, culpando tudo e todos, isenta-nos da responsabilidade das nossas escolhas e isso não é correto. Pessoas conscientes e sérias assumem responsabilidades e as outras arranjam desculpas, procuram culpados e omitem-se de fazer o que tem de ser feito. As responsabilidades dão origem a pessoas grandes e aqueles que são responsáveis conquistam a admiração, o respeito e a confiança de todos. Tens mesmo de mudar a tua maneira de ser e estar.

 

O rapaz foi para casa triste consigo mesmo e, quando lá chegou, ficou boquiaberto ao ver o pai a cuidar da mãe que caíra no quintal e partira um braço. O rapaz viu-se obrigado a ajudar os pais em todas as lides domésticas, ficando com a missão de limpar a casa, cozinhar para a família, cuidar da horta e dar de comer às galinhas e aos coelhos. A verdade é que toda a aldeia ficou surpreendida com o empenho, seriedade e responsabilidade do rapaz e a professora, quando foi visitar a mãe, disse-lhe:

 

- Estou orgulhosa de ti. Nem sempre conseguimos consertar os erros do passado, mas podemos e devemos aceitar e assumir as nossas responsabilidades em relação ao futuro. Somos responsáveis por aquilo que fazemos ou não fazemos, pelo que dizemos ou deixamos de dizer e, ainda, por aquilo que impedimos ou não que os outros possam fazer se for mau. Ser feliz é a nossa mais importante responsabilidade e eu sei que vais ser feliz porque não vais deixar nas mãos de ninguém essa tarefa. Teremos sempre duas opções na vida: ou nos resignamos e aceitamos as condições em que vivemos ou assumimos o desafio e a responsabilidade de mudá-las. Eu acredito em ti.

 

Depois do casal ter agradecido os conselhos da docente, o rapaz reconheceu que descobrira finalmente o valor da responsabilidade e, como sinal de que era um novo homem, prometeu construir o mais belo barco da região para a filha da professora.

Paulo Costa

Conto

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