Uma Igreja de amadores

Cartas a uma amiga 12 agosto 2023  •  Tempo de Leitura: 3

Acho que somos uma igreja de amadores, ou melhor, de profissionais amadores. Porquê? Porque amamos muito o que fazemos! Só isso pode explicar a dedicação e o empenho de tantos. Sim, somos amadores porque amamos.

 

Amamos o extraordinário que a fé nos faz sentir.

Amamos o bem que podemos fazer.

Amamos ser comunidade.

De Cristo recebemos essa mesma missão: Amar.

 

Mas amar é exigente, implica entrega e capacidade de perdoar. Em Igreja somos recordados a agir, sentir e fazer com o discernimento que o Espírito Santo nos dá, e não apenas com o nosso juízo de valor. E ouvir o Espírito Santo, implica saber escutar e rezar. É que entre o que te parece ser, o que achas, e o que realmente é pode haver uma grande diferença e levar a julgamentos precipitados que nos toldam a a forma de viver em comunidade.

 

Somos profissionais amadores porque vejo uma igreja repleta de profissionais nas mais diversas áreas, que exercem profissões mais ou menos qualificadas mas que têm todo um potencial maravilhoso. Sabem escrever como ninguém, têm jeito para as artes, tecnologias, organização, musica…. eu sei lá! Mas porque não os conseguimos cativar a pôr ao serviço da sua comunidade o seu profissionalismos em gestos de amor. Porquê não os cativamos? O que não estamos a conseguir transmitir?

 

Alegria?

Se calhar é isso! Somos uns cristãos tristes, cansados e desanimados em que tudo nos pesa e nos consome. E, às vezes, é mesmo assim que nos sentimos. Pomos ao serviço o que de melhor temos e nem sempre nos sabemos estimar, cuidar e engrandecer. Com o medo de nos roubarem o lugar habitual, somos incapazes de chamar quem faz melhor do que nós. Somos desconfiados, invejosos como se quisessemos guardar algo de preciosos, só para nós, para os escolhidos….

 

Nada mais errado, digo eu. À medida que nos fechamos, enchemo-nos de medo e perdemos capacidade de fazer render os nossos talentos.

 

Então:

Faça-se Pentecostes!

 

Sai de casa, faz caminho, chama todos os que quiserem fazer algo de bom. Chama-os, acolhe-os e põe-nos em ação.

 

Mas, querida Igreja que tanto amo, foi Jesus que os impeliu a ser corajosos porque, se bem me lembro, os apóstolos fraquejaram. Por isso, na Igreja, que somos todos, uns têm mais responsabilidade que outros, e precisamos que, quem de direito, proporcione o Pentecostes.

 

Que, quem de direito, nos chame à ação e nos faça sentir amados.

 

Que, quem de direito, nos dê o seu exemplo e rompa com tantos preceitos que nos prendem o espirito…

… e dê também o seu exemplo, de proximidade e espirito de missão que não se limite a celebrar missas, por mais importantes que sejam…

…que não sejam meros administradores de bens mas inspiradores de alma.

 

Somos profissionais amadores porque amamos com tudo o que somos e com todo o profissionalismo que uma causa como esta merece.

 

E tu amiga? Amas a tua igreja?

Raquel Rodrigues

Cronista "Cartas a uma amiga"

Raquel Rodrigues nasceu no último ano da década 70 do século passado. Cresceu em graça e em alguma sabedoria, sendo licenciada em Gestão, frequenta o mestrado em Santidade: está no bom caminho!

Aproveita cada oportunidade para refletir sobre os sentimentos que as relações humanas despertam e que, talvez, sejam comuns a muitas pessoas. A sua escrita é fruto da vontade de partilhar os seus estados de alma com a “amiga” que pode bem ser qualquer pessoa que leia com disposição cada uma das suas cartas.

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