O Ruído que se ouve quando fazemos silêncio

Cartas a uma amiga 10 agosto 2024  •  Tempo de Leitura: 2

Quando foi a última vez que tiveste de ficar em silêncio, lembras-te?

 

Quando ficaste a ouvir o silêncio, sem redes sociais e sem conversas fúteis, foi fácil?

 

Vai lá, a esse momento, ou então propõe-te a fazer esse exercício e desligar do mundo e diz-me: para onde foste? O que fizeste? A verdade é que mesmo que fisicamente fiques parada a tua mente viaja, incomoda-se com pensamentos, perturbasse com sentimentos e NÃO TE DEIXA ESTAR EM SILÊNCIO. Faz um ruído estranho, desconexo e perturbador que faz com que esse momento se torne desconfortável.

 

Confesso que ainda não sei dominar isso, pelo que o silêncio às vezes me faz muito barulho!

 

Quando participei nas Jornadas Mundiais da Juventude em Lisboa tive a oportunidade de estar muitas vezes em silêncio, apesar de haver barulho e bulício, mas nada comparável à vigília da ultima noite no campo da Graça. No meio do caos organizado, das ambulâncias e da multidão foi proposto a adoração ao Santíssimo Sacramento: “impensável, não há condições” ao que direi “único e irrepetível”.

 

O silêncio era quase absoluto, mas confesso que havia muito barulho cá dentro. Havia muita prece, muita gratidão e muita vontade de Lhe contar tudo o que ia na alma. Aos poucos sosseguei e apreciei a presença de Deus em cada ruído que ouvia, na brisa que sentia e em cada um que partilhava o minguo espaço que tínhamos. O momento foi especial mas lamento que, no dia a dia, nem sempre consiga sentir o silêncio que me leva a ouvir a voz de Deus. Não a voz das tarefas, afazeres, rancores ou chatices, mas a voz que serena e acalma a tempestade.

 

Mas esse é um treino que cada um deve fazer: treinar o espírito como treina o corpo!

 

Aprender a discernir o ruído que perturba da voz interior, não é algo que se consiga à primeira mas implica um trabalho constante e interminável para o qual eu ainda estou longe de terminar. Não vale a pena desanimar, mas educar a mente para os sentimentos que queremos que predominem no nosso coração. Devagar, devagarinho, talvez consigamos apreciar mais o silêncio.

 

E tu amiga, como tens vivido os teus silêncios.

Raquel Rodrigues

Cronista "Cartas a uma amiga"

Raquel Rodrigues nasceu no último ano da década 70 do século passado. Cresceu em graça e em alguma sabedoria, sendo licenciada em Gestão, frequenta o mestrado em Santidade: está no bom caminho!

Aproveita cada oportunidade para refletir sobre os sentimentos que as relações humanas despertam e que, talvez, sejam comuns a muitas pessoas. A sua escrita é fruto da vontade de partilhar os seus estados de alma com a “amiga” que pode bem ser qualquer pessoa que leia com disposição cada uma das suas cartas.

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