Viver para Sempre?

Cartas a uma amiga 2 novembro 2024  •  Tempo de Leitura: 3

Viver para Sempre? 

Se calhar não!

 

Muito se tem falado sobre prolongar a vida e ambas temos pensado muito sobre o avançar da idade daqueles que nos são mais próximos. Queremos que eles vivam muito, mas também queremos que vivam bem e sintam que a vida faz sentido e que a sua presença continua a ser VIDA para nós. Admiro a ternura e dedicação daqueles que dão a sua vida para garantir que o fim da vida de outros seja digna dos anos que lhes pesam no corpo. Mas deve ser cansativo! O cuidador abdica da sua vida para ser a Vida de outros na maioria das vezes nem se queixam, apenas aceitam. Um dia fomos filhos e precisamos que cuidassem de nós, mas haverá um dia em que seremos nós a cuidar dos nossos pais e a providenciar que nada lhes falte - que assim seja!. Mas estes são os sortudos pois existem outros tantos que são deixados sem nome e às vezes sem dignidade, à espera que chegue a sua hora e à mercê da compaixão alheia.

 

Mas acho que pior do que isso são aqueles que desistem de viver, aqueles que, após uma vida longa, se recusam a aceitar as perdas. As perdas dos seus pares, a perda das capacidades físicas, das mentais e começam a pensar: que estou aqui a fazer? Estes podem não ser um fardo físico mas são uma enorme dificuldade para quem cuida pois por mais que se dê o necessário, sente-se que o outro simplesmente desistiu e apenas espera o inevitável. Será que eu vou ser assim?

 

Mal comparado, a vida pode ser encarada como uma vela que para ser útil tem de estar acesa e a cera, que a sustenta, é consumida na medida que a chama ilumina o espaço. Assim, também a vida se vai consumindo entre canseiras, alegrias e desafios. Por vezes, sofremos mazelas e desgastes que são difíceis de superar e que nos deixam marcas que nos fazem desistir um pouco e ficamos sem vontade de prolongar a vida. Será como uma chama que se vê confrontada com ventanias que a fazem fraquejar. Tal como a vela, a vida desgasta-nos, consome-nos porque isto de ser LUZ dá muito trabalho mas é o que dá razão à nossa existência. Viver para sempre nem sempre significa viver bem, por isso escolho: Viver bem!

 

Assim sendo, querida amiga, sugiro que vivamos com intensidade o que nos surge no caminho e preparar para um dia, quando a nossa “cera” for mais curta, e os ventos mais agrestes, termos a capacidade de aceitar o momento tal qual ele é, e continuar a ser Luz na vida dos outros, porque o resto… está nas mãos de Deus.

 

E tu amiga, o que fazes da tua vida?

Raquel Rodrigues

Cronista "Cartas a uma amiga"

Raquel Rodrigues nasceu no último ano da década 70 do século passado. Cresceu em graça e em alguma sabedoria, sendo licenciada em Gestão, frequenta o mestrado em Santidade: está no bom caminho!

Aproveita cada oportunidade para refletir sobre os sentimentos que as relações humanas despertam e que, talvez, sejam comuns a muitas pessoas. A sua escrita é fruto da vontade de partilhar os seus estados de alma com a “amiga” que pode bem ser qualquer pessoa que leia com disposição cada uma das suas cartas.

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