A arte de consolar e de ser consolado

Cartas a uma amiga 16 novembro 2024  •  Tempo de Leitura: 3

Recentemente tenho recebido notícias menos boas relativas a pessoas que gosto muito e que me apanham de surpresa. De certeza que já te aconteceu saberes que alguém ficou desempregado, ou que alguém descobriu uma doença, ou no limite a partida de alguém querido. Perante isso, que palavras dizer? Como consolar sem que pareça aqueles chavões do costume.” Vai correr tudo bem”, “o que é teu está reservado”, “quem muda Deus ajuda”, ou “está em paz”. Como posso consolar ou apoiar sem que pareça algo oco? Não é nada fácil e volta e maia dou por a tentar consolar usando as mesmas frases do costume e a pensar: “não conseguias melhor?”

 

Acredito que só nos apercebemos disto quando somos nós os consolados! Ai… nem sempre é fácil escutar certos consolos paternalistas que nos custam a digerir:” eu bem sei o que isso é”, “eu já passei por isso” e sentimos que a nossa dor foi desvalorizada.

 

Por isso falo em arte. Falo na capacidade de materializar os sentimentos e perceções e torna-las em algo agradável. Falo na capacidade de olhar para algo e dar-lhe uma forma que suscite emoções. Confesso que não domino a arte. Não gosto de sentir que tenho de ser consolada, mas reconheço que bem ou mal, quando alguém se aproxima de mim e diz: ”hoje não estás bem, passa se alguma coisa?”, só isso me consola. Não preciso de mezinhas nem tristezas, mas empatia. Mas é uma arte tão difícil que muitos preferem nem enveredar por ai. Preferem não perguntar, não saber, não estar pois não sabem o que dizer. Dou por mim a fazer o mesmo!

 

Não tenho respostas, mas sei que é mais fácil consolar quando conhecemos as pessoas, apesar de ser muito mais difícil consola-las porque a tristeza dos nossos é por si uma enorme tristeza. Sei que quando conhecemos alguém e sabemos que está triste, podemos encontrar algo que torne aquele momento especial porque há algo que nos une e que permite conversas únicas. Há gente de abraços, de presenças e palavras capazes de iluminar o lugar mais escuro e preencher o mais fundo dos vazios e sou grata por ter algumas “artistas” destas na minha vida. Enquanto isso, vou treinando a minha arte para poder saber consolar e ser consolada.

 

E tu amiga dominas essa arte?

Raquel Rodrigues

Cronista "Cartas a uma amiga"

Raquel Rodrigues nasceu no último ano da década 70 do século passado. Cresceu em graça e em alguma sabedoria, sendo licenciada em Gestão, frequenta o mestrado em Santidade: está no bom caminho!

Aproveita cada oportunidade para refletir sobre os sentimentos que as relações humanas despertam e que, talvez, sejam comuns a muitas pessoas. A sua escrita é fruto da vontade de partilhar os seus estados de alma com a “amiga” que pode bem ser qualquer pessoa que leia com disposição cada uma das suas cartas.

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