Sozinhos na multidão

Cartas a uma amiga 12 abril 2025  •  Tempo de Leitura: 2

Já te sentiste só, apesar de estares acompanhada de uma multidão?

Numa era de tantos encontros, festas, jantares de amigos e coisa e tal dou por mim a sentir que apesar de acompanhada, acabo por me sentir só. Disfarçados num sorriso amarelo, lá nos vamos contentado com a conversa de circunstância, muitas vezes sem conteúdo, nem sumo, mas que serve o propósito…cortesia. Em jantares de grupo, falamos com os vizinhos do lado, se tivermos a sorte de ter algo em comum. Em determinadas festas, o barulho da música é tal que nem nos podemos dar ao luxo de conversar. Outras vezes, simplesmente estamos sós porque queremos.

Por isso talvez nos refugiemos tanto nos telemóveis e vamos perdendo a capacidade de arrancar boas conversas com quem nos rodeia. Perdemos a coragem de querer saber mais sobre o outro, não só sobre o que faz mas essencialmente o que sente sobre o que faz. Claro está que às vezes fugimos e conversas, ou melhor de pessoas, cuja conversa é sempre penosa de tão egocêntrica que é mas até isso é aprendizagem.

Muitos gostam de estar rodeados de muita gente pois confere um certo estatuto, mas no final da noite resta apenas a aparência porque no interior ficam dúvidas sobre a real amizade de quem nos rodeia.

Com o tempo, vou tendo menos vontade de estar com muita gente, e ganhar o gosto de estar com poucos de cada vez e com eles alimentar uma conversa mais pessoal, alegre, descontraída, daquelas que curam almas mesmo que, para isso, se tenha de remexer em algumas feridas e drenar o mal que nos faz.

E tu amiga, já te sentiste só na multidão?

Raquel Rodrigues

Cronista "Cartas a uma amiga"

Raquel Rodrigues nasceu no último ano da década 70 do século passado. Cresceu em graça e em alguma sabedoria, sendo licenciada em Gestão, frequenta o mestrado em Santidade: está no bom caminho!

Aproveita cada oportunidade para refletir sobre os sentimentos que as relações humanas despertam e que, talvez, sejam comuns a muitas pessoas. A sua escrita é fruto da vontade de partilhar os seus estados de alma com a “amiga” que pode bem ser qualquer pessoa que leia com disposição cada uma das suas cartas.

Subscrever Newsletter

Receba os artigos no seu e-mail