A Quaresma para os jovens
Não é fácil falar de jejum, abstinência, penitência, oração e caridade nos dias de hoje. Se o é em relação aos adultos, quanto mais aos jovens. E se o ponto de partida para o diálogo for a obrigação, então será quase impossível. Vivemos um tempo em que o divertir-se e o ter, parecem ser a única forma de vida e a única maneira de encontrar a felicidade pelo prazer que tal proporciona.
A ideia chave é esta: para o crente, este tempo que nos prepara para a Páscoa, mais do que uma imposição é um desejo.
Quando falo da Quaresma com os jovens, tenho sempre a preocupação de dizer que ninguém é obrigado a fazer jejum, a abster-se de comer carne ou a praticar a esmola. O crente faz tudo isto porque quer preparar de uma forma diferente este grande acontecimento que é a Páscoa. Por quê a Páscoa? Porque é o acontecimento central da fé: a morte e ressurreição de Jesus Cristo. Sem ela não faz o menor sentido ser cristão. Não passaríamos de um grupo de mulheres e de homens de "bom coração"... O "por quem" e o "para quê" dão sentido a toda esta aparente tristeza e dureza que parece caracterizar este tempo litúrgico.
É um tempo favorável para rever o nosso estilo de vida, seja a nível pessoal, seja a nível comunitário. E este ponto, surge hoje como fundamental. Os jovens precisam de saber que não somos ilhas. Vivemos com a família, com os colegas de escola, os amigos da rua, os companheiros da paróquia.
É um tempo favorável para os cristãos retornarem ao Evangelho, ao Deus vivo, e colocarem no seu lugar o poder, o dinheiro, o sucesso e a sensualidade. Tantas e tantas vezes são estes deuses que orientam os nossos pensamentos, os nossos afetos e os nossos comportamentos.
É um tempo favorável para habitar de uma maneira nova o nosso corpo, a nossa vida, as relações familiares e comunitárias, a atenção ao planeta.
O jovem deve ser convidado a fazer uma ascese do quotidiano. Parece fácil, mas não é. Num mundo em que tudo corre depressa, onde queremos tudo para "já", "aqui e agora", não é fácil redescobrir o significado dos gestos diários, muito humanos e que se repetem diariamente sem consciência.
Num mundo onde o que interessa, parecem ser os momentos de festa - aniversários, concertos, festas de final de ano, carnavais... -, o que acontece no quotidiano é desvalorizado. O jovem cansa-se com a normalidade dos dias. Creio que os jovens precisam de perceber as coisas do quotidiano. Precisam de "saboreá-las". Só assim compreenderão que é necessário "estar presente" nas relações familiares e nos ambientes que frequentamos; é necessário "estar presente" nos gestos que fazemos.
O quotidiano é o lugar onde vivemos a realidade daquilo que celebramos. O quotidiano é o tempo favorável no qual vivemos a Quaresma que rezamos.