A lâmpada do amor
«O amor quer ouvir-se dizer as coisas que já sabe.» «O amor deve ser uma eterna confissão.»
É sábado e estamos em maio: uma combinação certa e tradicional para celebrar o matrimónio. Aos casais que hoje se desposarão e àqueles que me leem unidos, talvez, há décadas, dedico dois aforismos que anotei ao ler as páginas de dois autores franceses que amo.
A primeira frase é do famoso autor dos "Miseráveis", Victor Hugo (1802-1885), e exprime uma verdade indiscutível: o enamorado ama a repetição. O «amo-te» reiterado nunca é supérfluo e nunca é idêntico. Tem sempre gradações e irradiações diferentes.
«Nunca a mesma onda se volta a derramar no mar e nunca/ a mesma luz se levanta sobre a rosa:/ nem chega à aurora/ que tu não sejas já outro», cantava David M. Turoldo.
E todavia a realidade é sempre a mesma: são as suas potencialidades secretas que ininterruptamente desabrocham e florescem diante dos nossos olhos. É essa a mesma lógica da repetição orante: pense-se na liturgia no seu coração constante ou, mais simplesmente, no significado do rosário.
Nesta repetição, porém, adverte-nos o segundo autor, o poeta Alfred de Vigny (1797-1863), a verdade, a sinceridade, a autenticidade devem sempre dominar. De outro modo tem-se a pura e simples convenção, própria dos formulários oficiais, tem-se a rima infantil, tem-se a hipocrisia que simula sentimentos extintos.
No amor a confissão - inclusive das fragilidades e até das traições - é a alma mesma da comunhão íntima. Se a lâmpada da lealdade é a intermitência, depressa o amor se fulmina.
[Card. Gianfranco Ravasi | Presidente do Conselho Pontifício da Cultura | In: "Avvenire"]