«ALEGRAI-VOS E EXULTAI»

Crónicas 10 abril 2018  •  Tempo de Leitura: 4

Esta semana começou com uma surpresa agradável do Papa Francisco: um novo texto. Uma exortação apostólica, é um documento menos solene que as encíclicas, é um texto do pontífice com caráter catequético.

 

Desde ontem que muito se diz e escreve sobre este documento. Mas numa primeira leitura, o que mais me foi noto é a importância que Francisco dá ao bom humor. No Capítulo IV, «ALGUMAS CARATERÍSTICAS DA SANTIDADE NO MUNDO ATUAL», Alegria e sentido de humor, nº 126, na nota 101, o Papa recomenda a oração atribuída a São Tomás Moro:

 

“Dai-me, Senhor, uma boa digestão e também qualquer coisa para digerir. Dai-me a saúde do corpo, com o bom humor necessário para a conservar. Dai-me, Senhor, uma alma santa que saiba aproveitar o que é bom e puro, e não se assuste à vista do pecado, mas encontre a forma de colocar as coisas de novo em ordem. Dai-me uma alma que não conheça o tédio, as murmurações, os suspiros e os lamentos, e não permitais que sofra excessivamente por essa realidade tão dominadora que se chama “eu”. Dai-me, Senhor, o sentido do humor. Dai-me a graça de entender os gracejos, para que conheça na vida um pouco de alegria e possa comunicá-la aos outros. Assim seja”.

 

Não se pode ser um bom cristão nem aspirar à santidade se não se for otimista, esperançoso e bem humorado, independentemente das dificuldades com que nos deparamos ao longo da vida. Já antes o Papa escreve que o santo é capaz de viver com alegria e sentido de humor. E isto porque consequência da fé. Francisco cita São Paulo aos Romanos ao dizer que a fé é «alegria no Espírito Santo» (Rm 14, 17).

 

A tristeza está ligada à ingratidão, à incapacidade de reconhecer os dons de Deus, ao estar fechado sobre si mesmo. De facto, se "lançarmos" o nosso olhar para além do "nosso umbigo"; do nosso pequeno mundo; da nossa situação concreta e imediata, que pode ser de sofrimento e dor, como a doença ou a morte, poderemos, através da fé, alcançar a serenidade de Cristo ressuscitado. Ele venceu a morte! A tristeza e a dor são momentâneos.

 

O problema é que muitas das vezes vivemos uma felicidade "à flor da pele". Ou seja, a nossa alegria está nas festas, convívios e nas coisas. Não é uma alegria interior. Aquela que é capaz de "sorrir no silêncio" do nosso quarto ou na normalidade e rotina dos nossos dias. Quantos de nós são capazes de estar meia hora por dia no silêncio? Temos dificuldade em entrarmos em nós mesmos. Porém é aí que, inicialmente, encontraremos Deus...

 

É aí que essa alegria sobrenatural, como diz Francisco, «se adapta e transforma, mas sempre permanece pelo menos como um feixe de luz que nasce da certeza pessoal de, não obstante o contrário, sermos infinitamente amados». É uma segurança interior, uma serenidade cheia de esperança que proporciona uma satisfação espiritual incompreensível à luz dos critérios mundanos

 

E esta alegria não é individualista nem consumista, mas sim, partilhada, co dividida. Esta alegria assim vivida é a alegria da santidade.

Licenciado em Teologia. Professor de EMRC. Adora fazer Voluntariado.

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