A Essência do Natal (3)
A essência de Natal é este Jesus na Manjedoura! E quem é este Jesus na Manjedoura?
É assim que chegamos à última crónica sobre a Essência deste tempo litúrgico. De hoje a oito dias, estaremos a celebrá-lo com intensidade.
"A manjedoura é o símbolo da pobreza de todos os tempos. Cúmulo, juntamente com a cruz, da carreira invertida de Deus que não encontra lugar aqui em baixo. É inútil procurá-lo nos prestigiosos palácios do poder, não está lá. É perto da tenda dos sem casa, dos sem pátria, dos intrusos, dos estranhos, dos agressores." D. Tonino Bello
No Natal celebramos a memória de Deus que assume o rosto e o corpo de uma criança. É uma festa que torna evidente a lógica de Deus que escolhe nascer frágil e impotente. Um ser que apenas nascido, vive a experiência da fuga e do exílio.
O Natal é uma parábola que, muito mais que o folclore; muito mais que a fábula inócua do presépio; muito mais do que "uma bela tradição", é o coração do Deus dos cristãos!
Comovemo-nos perante o presépio ou ao ouvir as músicas natalícias, mas compreendemos muito pouco a profundidade deste evento que, na sua Essência, nada tem a ver com esta atmosfera mágica ou surreal… O mistério da Encarnação nada tem de poético, ainda que a poesia, juntamente com outras formas de arte, possa exprimir a sua Essência na vida do ser humano. Jesus na Manjedoura é um sinal escandaloso, juntamente com a cruz. O que inverte as nossas expectativas e vira do avesso a lógica do mundo.
De facto, com a Encarnação, Deus dá o primeiro passo em direção ao total esvaziamento. Tornando-se um de nós, Deus põe-se a caminho para alcançar qualquer condição de degradação humana, para elevá-la à dignidade do céu. A partir do momento em que o Verbo se torna carne no ventre de Maria, ninguém pode duvidar que seja amado, procurado e encontrado pelo seu Criador e Pai.
Este acontecimento obriga-nos a abrir novos horizontes. Obriga-nos a acreditar que o destino de cada um de nós, mesmo quando pobre e desesperado, é o reflexo do destino deste Deus Menino. E, como Ele, temos a responsabilidade de construir um mundo melhor.
A Essência de Natal é Jesus na Manjedoura. É este Deus Menino que assumindo a condição humana, elevou-a à dignidade de divina. A consequência do Natal é a assunção da nossa fragilidade, porque foi esta que Jesus assumiu e dignificou. Por isso é que a Manjedoura, tal como a Cruz, é escândalo para a sabedoria do mundo.
Por ser escândalo é que "nos afogamos" em compras, em luzes, em comida, em roupa, em música… em exterioridade.
Nos textos anteriores escrevi «que pouco interessavam as iluminações das ruas, as decorações das igrejas ou das nossas casas, o que se comia e vestia ou o que iríamos dar como presentes, se o nosso interior não estivesse ocupado com a essência do Natal, ou seja, se no nosso coração não estivesse a esperança que é Jesus na Manjedoura.» Que até os «qualificativos que damos à quadra: tempo de paz; tempo da família; tempo da solidariedade… Nada disto é o verdadeiro Natal.»
«O dia 25 de dezembro poderia ser o Dia da Esperança.» Porque todos os anos renovamos a certeza que Deus nos salva nas nossas fragilidades. Deixemo-nos encontrar por aquele Menino indefeso que oferece-se a nós como riqueza suficiente. Jesus na Manjedoura apenas nos quer dar o amor desinteressado do Pai.
Aproveitemos esta última semana de Advento para endireitarmos as veredas que nos conduzem à Essência de Natal…