Rico mas pobre
«Não há dúvida de que nos últimos milénios fizemos enormes progressos. Conseguimos voar como pássaros, nadar debaixo de água como peixes, fomos à lua e enviámos sondas para Marte. Agora somos até capazes de clonar a vida. No entanto, com todo esse progresso, não estamos em paz connosco próprios ou com o mundo à nossa volta. Pelo contrário, o homem nunca foi tão pobre desde que ficou tão rico.»
Tiziano Terzani (1938-2004), a quem devo estas linhas, foi um jornalista e escritor italiano que atravessou várias fronteiras culturais e religiosas, por vezes talvez com algum sincretismo e entusiasmo demasiado inocente.
A ele, todavia, deve sempre reconhecer-se a sinceridade, a autenticidade, a convicção pessoal que inflamou muitos leitores e iluminou a última parábola da sua existência, vivida na dor e na serenidade.
Este parágrafo, que pode ser o sumo da sua lição moral e espiritual, não precisa de comentários, mas apenas de um exame de consciência.
O Ocidente sábio, orgulhoso, poderoso, está a revelar-se cada vez mais faminto, miserável e débil. A razão está precisamente em estar repleto de coisas mas vazio de verdade, bondade, beleza, espiritualidade.
O filósofo alemão Martin Heidegger, em 1950, escrevia: «O tempo da noite do mundo é tempo de pobreza. O mundo já se tornou tão pobre que não sabe reconhecer a ausência de Deus como ausência».
O progresso é importante, sim, porque abre novos horizontes; a técnica torna-nos a vida mais fácil; a ciência explica-nos muitos segredos da natureza. Mas o homem e a mulher têm em si um mistério de transcendência, de amor, de verdade, que supera toda a dimensão espacial e temporal.
E é por isso que ansiamos por uma plenitude absoluta, cultivamos desejos ilimitados, procuramos alcançar o divino, esperamos uma explicação sobre o sentido último da vida e do ser.
[P. (Card.) Gianfranco Ravasi | In Avvenire]