Ainda há quem não se salve
Ainda há quem não se salve. Há quem se esconda por trás de tantos e tantas, não como refúgio, mas como forma de salvar os outros. Existe quem ainda percorra cantos e recantos à procura de resgatar mais vidas para a vida. Há quem se dê por inteiro e se reparta em pedaços para que muitos se possam completar e sair de novo em direção a uma réstia de esperança que lhes alimente de novo a sua existência.
Ainda há quem não se salve. Há, neste mundo, quem não caia na tentação de se salvar a si mesmo. Deixam-se alargar por entre tantos e tantas de forma que as suas próprias vidas sejam calcadas e recalcadas como prova de que a nossa missão não está em nos safarmos, mas em nos estendermos até ao encontro do outro. Há, por esse mundo fora, quem ainda sinta as dores e as feridas dos outros de tal forma que passam a ser suas. Existe quem se supere dia após dias esquecendo-se de quem são e de onde vêm para que os outros possam escrever na sua humanidade as histórias das suas passagens. Anulam-se por completo, não por descuido nem para servir de escapatória, mas para que muitos possam encontrar neles a certeza de que a vida é, em todo o momento, digna de ser vivida e defendida.
Ainda há quem não se salve. Existe na vida de todos os dias quem faça da sua vida uma oferenda permanente. Há quem ainda saiba olhar nos olhos e deixar que a sua humanidade toque o coração de muitos. Há quem ainda saiba cuidar e deixar que o toque seja transformador e gerador de mudança. Há quem saiba abraçar e acolher em si aqueles e aquelas que um dia foram rejeitados pela diferença, pela violência e pelo radicalismo. Ainda há quem se deixe tocar pelo dom que acontece no outro!
Ainda há quem não se salve para que muitos possam ser salvos!