Tu nunca dizes nada!
Tu nunca me dizes nada. Falas em hinos de glória e em palavras bem-ditas, mas que não me satisfazem em tantos momentos e circunstâncias. Dás-me desafios plenos e pedes-me uma entrega total a um Reino que se vai costurando num Verbo de Vida, mas que tantas vezes parece não estar cimentado e aprofundado em diversos questionamentos e buscas do meu ser. Trazes-me ao silêncio da minha existência e pedes que Te entregue toda a minha inteligência e a coloque assim num mistério total de quem se deixa andar de esperanças, onde tantas vezes parece efémera e sem sentido algum.
Tu nunca me dizes nada. Revelas-Te em gritos ensurdecedores que não atingem a frequência da minha audição e que por isso mesmo não consigo escutar a oração do Teu coração. Mas mesmo assim preferes continuar nessa sintonia que muitas vezes me apanha e me pega pela busca permanente. Usas as parábolas e os bons ensinamentos para que nesse acolhimento sem fim eu entenda que Tu és verdadeiramente o nosso termo, no entanto continuam a existir tantos homens e mulheres que não deixam que tantos outros cheguem à meta do Teu amor e da Tua misericórdia e, até aí, insistes em permanecer calado como se as nossas vidas não necessitassem de palavras e abraços.
Tu nunca me dizes nada. Vais falando num sopro da vida que dinamiza e nos alimenta para que possamos continuar a caminhar na certeza de que não estamos sós, mas em tantas situações nos encontramos perdidos e solitários. Somos também nós que encontramos tantos outros que se perderam de Ti e da vida e que desesperados entregam-se a uma perdição sem volta.
Tu nunca me dizes nada e por isso mesmo dizes-me tudo!