Andar de esperanças
Esta semana, ao deslocar-me ao Hospital de São João, deparei-me com vários casais. Muitos deles jovens. Sabe bem andar pelo hospital quando se vê que as pessoas andam com a esperança carregada nos olhos, no caso dos futuros pais, e ver as mulheres a carregá-la no seu ventre como sinal de nova vida e de verdadeiro dom dando provas de que está prestes a despontar.
Tudo isto me maravilhou, é claro, e para os mais curiosos podem ficar descansados que ainda não surgiu em mim o desejo da paternidade, mas em cada vivência e partilha que vou tendo com futuros pais ou com aqueles que abraçaram a paternidade e maternidade há pouco tempo, vou-me apercebendo da riqueza que existe, mas também dos desafios, das dificuldades e dos riscos que a geração de uma nova vida traz.
Só que tudo isto foi-me retirado dos olhos e foi-me colocado completamente de lado quando encontrei um jovem casal em que ela, deficiente motora e que, por isso, tinha muito pouco equilíbrio, estava grávida e o seu companheiro/namorado/marido segurava-a com uma só mão sendo o seu pilar e ajudando-a, assim, a caminhar em direção à porta da consulta. Isto deixou-me perplexo e fascinado, talvez porque ainda não saiba muito bem o que é isto do amor e da entrega plena a algo ou a alguém, mas aquele casal, na simplicidade da sua vida, deu-me uma demonstração de amor incrível. Mostrando ao mundo as dificuldades e os desafios que já tinham, decidiram abraçá-los e gerar uma nova vida, onde certamente os desafios e os obstáculos serão muitos. Mas mesmo assim arriscaram. E só o poderiam fazer porque amam, porque se amam e porque, ainda sem o seu rebento ter dado à luz, já lhe vão testemunhando que o amor não se faz de cara bonita, de andares perfeitos e de facilidades, mas que se revela numa autenticidade capaz de abraçar as circunstâncias reais da vida que acontece em cada um de nós.
E foi também com eles que, uma vez mais, percebi que este Deus que é Amor também Se revela deste jeito e com este compromisso. Prometendo estar sempre, entre conquistas e derrotas, entre altos e baixos para que em todos os dias da nossa vida surja sempre mais vida, mais amor, mais companheirismo e mais misericórdia.
Sem se aperceber, aquele casal falou-me de vida e amor, e testemunhou-O. Talvez sem serem crentes, mas esta é maravilha do mistério da fé e da Sua revelAção: é que se manifesta sempre em quem menos esperamos e quando menos esperamos.
Que todos os futuros pais e mães possam ser continuamente esta manifestação viva de amor e vida, pois serão para todos nós testemunhos de grande bênção e Graça!