Ainda há quem marche!
Ainda há quem marche na vida. Há quem se dê ao luxo de sair das suas casas e mostrar que a vida se faz por entre comunhões marcadas ao ritmo de um bairrismo saudável e cheio de vaidade. Existe ainda, entre tantas ruas, quem saia de si mesmo e se disponibilize voluntariamente para que se dê bom nome à vida. Saem à rua e mostram por entre danças, sorrisos e cantorias, que retratam uma tradição vincada pela história, que são capazes de edificar obras de verdadeira humanidade.
Ainda há quem marche na vida. Permanecem, nos dias de hoje, homens e mulheres que se juntam não por causa do cotão do seu umbigo, mas para darem a conhecer ao mundo que as mãos quando entrelaçadas formam coreografias de autêntica beleza capazes de rezarem toda a nossa vida. Há, por essa mocidade fora, quem se deixe contagiar pelas tradições de pais e avós que um dia escutaram com atenção e cheios de entusiasmo e hoje, cientes do seu papel, colocam mãos à obra demonstrando de peito cheio e de carinha laroca que todos têm espaço quando se trata de dar um jeito na vida.
Ainda há quem marche na vida. Encontra-se quem se dê totalmente em decorações vivas e cheios de feitios para que nessa igualdade todos percam o seu feitio. Não se trata de uma anulação, mas de uma confirmação de que haverá sempre um bem maior que nos fará tirar máscaras e falsidades. Acha-se quem deixe coser de novo o seu coração tratando as suas feridas numa terapia à moda antiga sustentada na ciência do convívio e da partilha que não deixe qualquer vazio por preencher.
Ainda há quem marche na vida para que possa sentir-se, na vida de todos os dias, verdadeiro campeão. Campeão que não se satisfaz com as suas vitórias, mas sim com as conquistas de tudo e de todos!
Dedico este texto a todos os participantes dos Cortejos Etnográficos de São Romão do Coronado, que já participaram ou irão participar, pela forma bonita como dão bom nome à vida, à tradição e à união. Obrigado pelo vosso testemunho!
[Fotografia de ©Joaquim Manuel Ramos]