Um dia houve alguém que falou!
Um dia houve alguém que falou. Pegou em toda a sua vida e levou-a à boca. Tornou-se palavra que alimenta e que aviva. Ousou-se tornar verbo para que todo o movimento e ação viesse do seu dinamismo de amor tão misterioso, mas ao mesmo tempo tão encantador.
Um dia houve alguém que falou. Decidiu rasgar por completo a gramática do seu tempo e dar a conhecer as novas regras da libertação que não se focavam em opressão, mas que se regiam pelos seus gestos que eram adjetivos bem qualificados de comunhão, união e compaixão. Usou a sabedoria de se colocar perante os sujeitos e não permitiu que o predicado da sua divindade atropelasse a essência da criação da sua tão bela humanidade.
Um dia houve alguém que falou. Saiu a espalhar a Boa Nova brincando com as palavras. Brincou tanto que chegou ao ponto de se tornar tremendamente sério. Deixou que toda a sua vida fosse cosida de cima a baixo com as palavras de seu Pai. Não veio com um discurso de campanha, nem com palavras feitas, porque ele era a verdadeira palavra. Veio para ser a palavra e nós bem sabemos que as expressões só ganham crédito quando os nossos gestos condizem com a nossa fala. E assim o fez: deixou tudo por escrito nos gestos da sua humanidade soprados pela sua autêntica divindade.
Um dia houve alguém que falou. Falou tanto e tão bem que aceitou que a palavra lhe entranhasse. Deu-lhe vida através da sua própria vida e deu a conhecer assim o vocábulo que não se perde pelo tempo ou pelos escritos, mas que insiste e resiste em viver em todos e por todos.
Um dia houve alguém que falou e, diante de tão belos discursos, foi ditando de cor e salteado o Reino do seu tão amado Pai!