Atenção

Crónicas 7 novembro 2019  •  Tempo de Leitura: 3

“A atenção, no seu mais alto grau, é o mesmo que oração. Pressupõe fé e amor.” (Simone Weil)

 

Se rezasse mais estaria mais atento? Rezar não é útil. Rezar é mergulhar em Deus. Não preciso de um lugar especial, basta deixar que a vida e Deus se embrenhem de tal modo que não consiga separar um do outro.

 

A atenção pressupõe fé e amor porque, se não confiar e for dom-de-mim, abraço a distracção proveniente da desconfiança, e desprezo aqueles a quem me podia doar. Mais cedo ou mais tarde, se não doar, irá doer.

 

Dói pela oportunidade perdida de viver o tempo presente, ficando preso ao passado a viver o remorso, em vez de aprender com o passado para melhor acolher o futuro. Esse é o resultado de um atitude mental atenta.

 

Passo pelas ruas, corredores, cafés, e vejo muitas pessoas desatentas. Isoladas no seu mundo digital a enviar uma mensagem superficial, ou um emoji banalizado. É estranho como são muitos os que não se dão conta de se desligarem do mundo real à sua volta, para se ligarem ao mundo virtual na ponta dos dedos.

 

Poucos são os que rezam voltados para cima. Não porque em cima esteja o Céu. Para mim, não há lugar para o Céu. Olhar para cima é o gesto natural de respirar o sentido elevado de tudo o que se refere a Deus.

 

Diminuem os que rezam voltados para o outro. Atentos à sua voz, bebendo de cada palavra, como se não existisse mais ninguém no mundo senão a pessoa que tem diante de si. Não que não ligue aos outros, mas por cada um ser um encontro com Deus nele.

 

E se fôssemos um sinal de esperança? E se demonstrássemos um desapego tecnológico, diferente do desprezo pela tecnologia, mas controlando-a ao dar-lhe o devido lugar?

 

Um dos maiores apegos modernos distractivos é o smartphone, mas reconheço como entrou nas nossas vidas porque se tornou uma peça fundamental de comunicação com os outros. Porém, se porventura sentes-te apegado a ele, de tal forma que o personificas, sugiro três simples gestos concretos. 

 

  1. Põe-no a “dormir” noutra divisão da casa, não junto a ti.
  2. Deixa-o no móvel de entrada quando chegas a casa. De cada vez que precisas dele, vai lá e deixa-o lá.
  3. Mete o ecrã com cores cinzentas.

 

O efeito é transformativo. A tua vida muda. Recuperas mais do que a atenção. Recuperas a potencialidade daquilo que a tua vida pode ser. Não vás somente pelo que te partilho. Experimenta.

Aprende quando ensina na Universidade de Coimbra. Procurou aprender a saber aprender qualquer coisa quando fez o Doutoramento em Engenharia Mecânica no Instituto Superior Técnico. É membro do Movimento dos Focolares. Pai de 3 filhos, e curioso pelo cruzamento entre fé, ciência, tecnologia e sociedade. O último livro publicado é Tempo 3.0 - Uma visão revolucionária da experiência mais transformativa do mundo e em filosofia, co-editou Ética Relacional: um caminho de sabedoria da Editora da Universidade Católica.
 
 
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