RUMO Livre
Desde que a nossa vida passou a depender muito dos nossos smartphones surgiu um estado psíquico chamado FOMO — Fear Of Missing Out —, isto é, o medo de perder aquela mensagem, chamada, notificação, etc. Não te aconteceu não saber onde está o teu telemóvel e começares a entrar em pânico? Também isso é FOMO. Como ultrapassar essa situação? Simples, com um novo RUMO.
Há dias acabei de ler o pequeno novo livro do jornalista Bruno Patino, “Submersos - Como recuperar a liberdade num mundo demasiado cheio?” (Gradiva, 2024), onde reflecte sobre o quanto estamos submersos no mar de informação gerada por uma multidão de gente e patrocinada por grandes empresas que não olham a meios para atingir o fim de captar a nossa atenção. Nesse livro, Patino refere uma coisa e, honestamente, não lhe dá tanta importância quanto penso que tem. Ele fala que o modo de ultrapassar o FOMO é evoluir para o ROMO, mas eu alteraria o segundo O de “Of” (“de” em Português) para “U” de “Upon” — RUMO que significa “Relief Upon Missing Out” — “Alívio por Passar ao Lado”, “por Ficar de Fora” ou “por Perder Alguma Coisa”. Alívio porque tomar maior consciência do tempo de atenção capturado involuntariamente pela tecnologia, devolve em nós um maior controlo sobre a nossa atenção. Isso significa que não precisamos de saber tudo para sermos felizes e mantermo-nos a par daquilo que se passa no mundo e ao nosso redor. O suficiente basta.
Muito do modo como lidamos com a tecnologia parece preso à ideia de que essa torna-nos mais eficientes a fazer seja o que for, mas não será que essa ideia acaba por nos levar a fazer demasiadas coisas que, na realidade, não seriam necessárias? O desenvolvimento tecnológico floresceu sob a promessa de que teríamos mais tempo para desenvolver a criatividade humana. Mas isso não aconteceu. Somos mais consumidores ávidos de informação e entretenimento, do que criadores de coisas que fazem diferença na qualidade de vida das pessoas. Não considero a produção exacerbada de conteúdos digitais como melhorar a qualidade da vida das pessoas se as mantém coladas a um ecrã, em vez de melhorarem a realidade à sua volta. Parece-me que não precisamos de ser mais eficientes, mas suficientes.
A suficiência dá a muitos a impressão de ser um grau abaixo da eficiência e coisa de gente pouco ambiciosa. Mas a ambição não é satisfeita com eficiência. A ambição é o desejo de ser mais, o que pode levar-nos ao sacrifício do desejo de sermos melhores. No fundo, qual a intenção de sermos mais eficientes se com isso não nos tornarmos melhores pessoas? Ser suficiente não significa viver como quem tem suficiente num teste, mas antes viver como alguém que é livre e desapegado das coisas vãs, sabendo discernir o que é efémero do que não é.
O FOMO vive do medo da possibilidade do remorso só porque não estávamos atentos aquela mensagem, ou atendemos aquele telefonema, ou perdemos aquele anúncio. Mas o medo de perder não é o caminho da liberdade. Quem sabe perder por amor, vive com RUMO. Aliviado. Livre. E aqui vejo alguma vantagem naqueles que procuram na sua vida viver a Vontade de Deus.
A Vontade de Deus é um mistério inefável, ou seja, sobre o qual, com humildade, sabemos pouco dizer. Mas quando procuramos viver bem cada momento presente da nossa vida, cada momento que emerge no tempo kairológico — o tempo certo, o tempo oportuno —, abrimos a mente à lógica da suficiência, onde (como ouvi nas palavras da minha esposa) — «Menos, basta.» Viver a Vontade de Deus é viver bem cada coisa do quotidiano. Pode ser a limpar a casa, a estudar, a ler, a conversar, a arrumar a loiça, a cozinhar uma refeição. A suficiência para quem vive com RUMO é fruto de quem se deixar orientar livremente pela sabedoria.
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