As vocações sacerdotais nascem nas famílias!
Estamos a celebrar a semana dos seminários. Celebrar, quer dizer tornar presente. Espero que durante estes dias os cristãos tornem, de facto, presente este assunto.
Não basta lembrar nem lamentar a falta de vocações ao sacerdócio. Somos sempre os primeiros a queixar-nos ou a "apontar" os defeitos dos sacerdotes. Porém, não somos consequentes a esses lamentos. Ou seja, que fazemos para melhorar a situação?
O tema dos seminários ou das vocações é uma questão que abordo com algum cuidado ou mesmo, com alguma preocupação. Não é uma "questão" fácil. Eu mesmo fui seminarista! Eu coloquei-me a questão do sacerdócio. Ouso até expressar por palavras o que me vai na alma: muitas vezes ainda penso que "dei uma nega" ao chamamento de Deus… Sim. Continuo a admirar a dedicação de tantos, mas tantos sacerdotes e consagrados à vinha do Senhor.
Fui seminarista dos meus 11 anos até quase aos 27. Frequentei o seminário menor dos Missionários Monfortinos em Fátima, até ao 11º ano de escolaridade. Fiz o 12º ano e postulantado em Vila do Conde. Vivi o ano de Noviciado em Santeramo in Colle, onde acabei por professar os votos temporários. Vivi no seminário maior em Roma e em Lisboa até metade do 5º ano de Teologia. Portanto, fui seminarista durante 15 anos e meio.
O homem que sou hoje, devo-o em parte a estes missionários. Tive formadores holandeses, portugueses e italianos. A todos o meu mais profundo e eterno agradecimento. Não ouso "quantificar" o contributo deles para a pessoa que sou. E escrevo isto sem temor algum, porque em primeiro lugar agradeço a minha família e em particular aos meus pais. Esta é a grande verdade que é preciso proclamar com voz forte: As vocações sacerdotais nascem nas famílias!
É rara a excepção em que um jovem se sinta chamado ao seminário e, possivelmente, ao sacerdócio, se em casa não viver um ambiente cristão. Um ambiente de atenção ao outro, um ambiente em que se olhe "para além do seu próprio umbigo".
Vejo muitas pessoas a lamentar a falta de seminaristas ou de vocações ao sacerdócio. A pergunta que lhes faço é o que têm feito de concreto pelas vocações além de rezarem. Se têm um filho preparado para se colocar esta questão? Se o próprio está preparado para "aceitar" que um filho coloque esta questão?...
Se as nossas famílias passam a vida a lamentar as misérias humanas dos sacerdotes, esperam que haja mais vocações? Se "passamos a vida" a preparar os nosso filhos para um trabalho que lhes permita "vingar" através do ter, esperamos que hajam bons sacerdotes? Se insistimos para que "tenham" coisas para serem felizes para si próprios, como é que queremos que hajam jovens disponíveis para "serem" para os outros?
Existem padres miseráveis? Claro que sim! Da mesma forma que existem pais e mães miseráveis! Então por que é que "insistimos" para que constituam famílias e não que se dediquem aos outros no Sacerdócio ou na Vida Consagrada?...
Vale a pena rezar pelos seminários?