Devíamos ser eternas visitas
Devíamos ser eternas visitas. Deixarmos que aquilo que somos fosse morada constante para aqueles que passam por nós. Não uma visita turística para nos fotografarem por inteiro e nem sentirem o cheiro da vida que transportamos, ou nem sequer repararem nas linhas da humanidade que desenham a nossa autenticidade. Sermos visitas eternas para que todos pudéssemos saborear como é bom estarmos em casa que acolhe e que se dá. Permitirmos que nos descubram e redescubram, vezes sem fim, e encontrarmos, deste jeito, lugares que são tão nossos e que vivem silenciosamente no nosso ser.
Devíamos ser eternas visitas. Visitarmo-nos uns aos outros para acabarmos de uma vez por todas com estas desconfianças incessantes como se não percorresse, em cada um de nós, a sede de sermos mais e melhores, como se não buscássemos a estrada de Damasco à espera de que algo ou alguém nos converta para a verdade daquilo que somos. Deixarmo-nos visitar e assim colocarmo-nos na presença do outro sabendo que as paredes da nossa existência são fabricadas através da nossa fragilidade, mas que também se deixam sustentar pelo bom e o belo que existe em nós. Precisamos de visitar e que nos visitem, de preferência os nossos cantos e recantos, para que muitos se descubram nas nossas sombras e para que tantos outros se alegrem e se desprendam na luz do nosso viver.
Devíamos ser eternas visitas. Andarmos de portas escancaradas e arejadas. Caminharmos entregues a uma confiança que se deixa semear cheia de esperança.
Devíamos ser eternas visitas e seríamos descobridores do mundo e do Homem. Devíamos ser eternas visitas para deixarmos que as nossas vidas fossem encontro para tantos desencontros!