O que é que tu esperas?"
O que é que tu esperas? Se calhar já nem te recordas como se espera. Já não usas tempo para ter tempo. Usas o teu tempo para teres ainda mais tempo numa correria desenfreada, desmedida e sem sentido. O sentido. Esse foi outro que te deixou há medida que foste fugindo de ti. Não te deste tempo e ele esgotou o teu tempo contigo. Apontou-te uma última vez na esquina daquela tua última decisão pressionada, por quem não se resolve, mas que se deixa atuar num autêntico desenrasque.
O que é que tu esperas? Ainda deve viver em ti resquícios do teu último silêncio. Aquele que te falava da vida e da tua existência. O silêncio do teu existir. O silêncio que te tomava consciência do que é ser, em vez de ter. O silêncio que te deixava estar e que, em autenticidade, brotava a certeza das incertezas. À volta das tuas voltas tudo ganhava forma. Cor. Tudo voltava a ganhar a beleza da simplicidade que não se impõe, mas que se propõe a fazer caminho.
O que é que tu esperas? Se tu já não esperas, como ainda podes viver? Se tu já não esperas, como ainda podes reconhecer(-te)? Se tu já não esperas, como ainda podes fazer crescer(-te)? Se tu já não esperas, como podes dizer quem és? É que ainda há tempo para ti. Ainda existe tempo para te embrulhares em presentes de autêntica presença. Ainda há espera para se fazer de esperança. Ainda há esperança para se carregar em sorrisos que nos abraçam e em olhares que nos dão colo.
Se não queres que este seja só mais um tempo, ou um advento sem cor, pergunta-te determinadamente: o que é que tu esperas?