Corpo de Deus
Esta semana celebraremos a Solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo, cuja origem remonta ao século XIII. A este propósito consultei o Dicionário de História Religiosa de Portugal. Aqui encontrei uma citação do então cardeal de Buenos Aires, Jorge Mario Bergoglio. Na homilia desta festa em 2001 o Papa disse:
«A festa do Corpo de Deus é a festa das mãos: das mãos do Senhor e das nossas mãos. Dessas "santas e veneráveis mãos" de Jesus, mãos chagadas, que continuam a abençoar e a repartir o pão da Eucaristia. E é a festa dessas mãos nossas, necessitadas e pecadoras, que se estendem, humildes e abertas, para receber com fé o Corpo de Cristo» (…) «Que o pão divino transforme as nossas mãos vazias em mãos cheias, com essa medida "apertada, sacudida e transbordante" que promete Jesus a quem é generoso com os seus talentos. Que o doce peso da Eucaristia deixe a sua marca de amor nas nossas mãos, para que, ungidas por Cristo, se convertam em mãos que acolhem e envolvem os mais fracos. Que o calor desse pão consagrado nos queime as mãos com o desejo eficaz de compartilhar um tão grande dom com os que têm fome de pão, de justiça e de Deus. Que a ternura da comunhão com esse Jesus que se põe sem reservas nas nossas mãos num verdadeiro "gesto inédito", nos abra os olhos do coração à esperança, para sentir presente o Deus que está «todos os dias connosco» e nos acompanha no caminho».
Nestes tempos que vivemos confrontados com constantes crises de fé em Deus e, ouso escrever, no próprio ser humano, necessitamos mais do que nunca deste corpo.
Deus assumiu um corpo para partilhar das nossas alegrias e dos nossos sofrimentos. Não se limitou a ouvir os gemidos do seu povo, mas veio em seu socorro. Também a nossa fé não pode limitar-se a contemplar o Corpo de Deus. Como disse o Papa em Buenos Aires, depois de receber com fé este corpo nas nossas mãos, elas se convertam em mãos que acolhem e envolvem os mais fracos.
Celebrar a festa do Corpo de Deus é muito mais que receber a presença sacramental na Eucaristia. Esta presença não é apenas orientada aos nossos olhos porque simplesmente nos colocamos em adoração diante dela, mas é orientada às nossas bocas, porque alimentados nos deixamos transformar no corpo eclesial do Senhor.
Adorar significa etimologicamente trazer à boca. Trazer a Eucaristia para o coração das nossas cidades e aldeias, onde homens e mulheres trabalham, vivem, se regozijam e sofrem, não significa tanto mostrar o mistério do corpo do Senhor, mas afirmar e testemunhar que o Senhor se fez comida, porque todos os cristãos se alimentam dela e se deixam transformar todos os dias.
Que sejamos Cristãos de corpo que se alimenta de Jesus e se dá a todos, principalmente aos mais necessitados