Não tem mal ficar calado
Não tem mal ficar calado. Não somos obrigados a ter as respostas que todos procuram. Não temos de carregar o peso de colocar palavras em muitas das situações que devem atravessar o silêncio.
Não tem mal não ter nada para dizer. Nem tudo se transforma diante da conversa. Há momentos que nos moldam com a ausência. Há circunstâncias que nos renovam com a solidão de nada se ver ou possuir.
Não tem mal não saber o que se dizer. Muitas vezes o melhor que podemos oferecer é esta nossa fragilidade de nada ter para dar. E, deste jeito, mostrar que também nos predispomos a caminhar por entre as incertezas. Deixando que a presença fale de tudo o que não foi pronunciado.
Não tem mal ficar calado. Precisamos de aceitar isto. Sem incómodo. Permitindo que ressoe em nós o sofrimento, a dor ou a incompreensão do mistério da vida.
Não tem mal não ter nada para dizer. É o silêncio que constrói a gramática daquele momento. É o silêncio que conjuga todos os tempos daquele tempo. É o silêncio que leva luz à sombra que não nos permite exprimir.
Não tem mal não saber o que se dizer. Assim poupamos o outro com as frases que não nos abraça. Damos o conforto necessário com a presença do olhar capaz de nos unir mais intensamente. Damos o testemunho verdadeiro de acompanharmos fielmente.
Não tem mal ficar calado, se na simplicidade do que somos permitirmos que o outro repouse em nós!